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O worgen parado no centro do grupo era provavelmente o worgen mais assustadoramente incrível que já vira – e só de olhá-lo, mesmo de longe, Dareon sabia que era ele. Lá estava o forte, destemido e impetuoso Darius Crowley, o bravo homem que o destino fizera questão de transformar num espécime das criaturas que se esforçara tanto para combater.
Ora, e não é essa a história de todos nós?, Dareon questionou-se, tentando dar um sentido às transformações em geral, mas a sensação de que a ironia havia sido um tanto maior no caso de Lorde Crowley não deixou de afetá-lo por mais alguns instantes. Podia perceber que continuava forte, e agora com certeza mais imponente e ameaçador do que antes, mas não havia como medir por inteiro o impacto que a transformação lhe causara. Até hoje não sei o que mudou em mim, pensou, entristecido, enquanto observava de longe a movimentação do grupo. Mas é claro que algo mudou.
Os rostos dos worgens que rodeavam Lorde Crowley eram verdadeiramente – e naturalmente – raivosos, porém havia uma tristeza escondida sob o olhar de cada uma daquelas criaturas que só fazia confirmar a teoria de que, bem lá no fundo, todos se sentiam perdidos e perturbados, mas em nenhuma hipótese Dareon afirmaria que vira qualquer sinal de fraqueza ou derrota na expressão daquelas feras; o que via era um calor que beirava a obstinação, uma fúria cuidadosamente armazenada para ser utilizada no momento certo.
Algo estava por vir, e aquilo era uma preparação.
– Da última vez que o vi, você era desse tamanho – Dareon se aproximou de Lorde Darius Crowley e colocou a mão na altura do cotovelo.
O líder da matilha tinha uma espada desembainhada em uma das mãos, quase tão grande quanto ele próprio e que, com absoluta certeza, nenhum humano conseguiria sustentar com tanta facilidade. Crowley olhou-o por um momento, confuso, com a cara de poucos amigos mais ameaçadora que Dareon já vira na vida. Um segundo depois, soltou uma gargalhada legítima – mas também um tanto assustadora – e lhe brindou com um tapa no ombro.
– Rapaz! – gritou ele. – Pois eu tenho certeza de que você era ainda um pouco menor, não era? – riu novamente, e Dareon o acompanhou. – Já faz um bom tempo… É uma pena que só tenhamos nos reencontrado nessa situação, não é? Tempos difíceis. E parece que só pioram.
Lorde Crowley ainda sorria, mas não muito. Dareon o observava com certo espanto, sem saber ao certo se o que o deixava com aquela aparência tão magnífica era o tapa-olho preto, os dentes absurdamente grandes ou o tamanho. Mas que diabos, pensava, ele tem uma vez e meia a altura de um worgen comum! Então olhou de esguelha para trás e prestou atenção nos outros worgens durante um segundo, só para garantir que não era ele o baixinho da raça e que o seu tamanho era muito normal, obrigado.
Não era que se achasse especial ou diferente de qualquer forma, mas pensar que, ao menos externamente, era quase absolutamente idêntico a todos os outros worgens o deixou cabisbaixo. Sou um worgen comum, concluiu para si mesmo. Droga. Por um momento, desejou ter aquele tamanho absurdo que Lorde Darius Crowley tinha. E talvez liderar uma matilha. Liderar uma matilha seria bom. Mas então pensou em Gwen e Lorna, e em todos os seus amigos, que talvez poderiam não gostar de ele ser enorme e líder de uma matilha…
– Dareon? – chamou Lorde Crowley. – Está tudo…
– Lorna! – Dareon o interrompeu abruptamente.
Ante a menção do nome da filha, Lorde Darius Crowley se abateu brevemente.
– O… o que tem ela?
– Está procurando por você – explicou Dareon. – Na verdade, foi ela quem descobriu essa história do Bradshaw e me fez vir aqui. Acho que ninguém deu muita bola para aquilo no começo, mas ela insistiu, e olha… Estava certa, não é? Preciso me lembrar de sempre escutá-la no futuro.
O semblante preocupado de Lorde Crowley se abriu em mais um sorriso divertido. Droga, como é que ele faz isso?, Dareon quis saber intimamente. Agora é permitido ser tão assustador e simpático ao mesmo tempo?
– Oh, eu soube de tudo – respondeu Crowley. – Soube de todos os seus feitos também, Dareon. Fiquei muito agradecido por tudo o que fez… E especialmente pela Lorna. Ela é tudo o que me resta… – ele olhou para baixo por um momento, pensativo, balançando a esmo a enorme espada, com a destreza de quem a brandia já havia muito tempo. – Vou mandar buscá-la imediatamente.
– Eu… eu acho que ela gostaria disso – Dareon concordou.
– Dareon? – Crowley o interrompeu calmamente. – Você vai ficar bem… Vocês vão ficar bem! Venho esperando por este dia há muito tempo. É muito bom vê-lo novamente, meu amigo!