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Este é o 22º artigo de 23 posts da série Renegada.

Ainda oculta pelo enorme tronco caído, encolhida na extremidade mais próxima dos rochedos, Halie observou o momento em que Godfrey, Walden e Ashbury iniciaram o ataque contra o acampamento da Frente de Batalha da 7ª Legião. Separados, invadiram-no de três lados diferentes, fazendo o possível para desviar a atenção de todos os worgens e confundi-los quanto a quem atacar.

Halie aguardou pacientemente e, seguindo à risca os detalhes do plano, contou até dez, correu na direção do acampamento e seguiu em frente o máximo que se atreveu. Quando finalmente notou as enormes figuras de três worgens na iminência de atacá-la, parou em meio à confusão e fixou o olhar em um ponto aleatório, à frente da última barraca.

Enquanto se concentrava, um movimento repentino lhe chamou a atenção. Lorna Crowley colocou a cabeça para fora, tomou consciência do que se passava e saiu correndo de dentro da barraca, uma mão pronta para empunhar a enorme espada flamejante presa à sua cintura e um escudo atado às costas.

O olhar das duas se cruzou por um breve momento, logo antes de Halie desaparecer subitamente de onde estava, deixando confusos os worgens que corriam em sua direção, e estranhamente reaparecer no fim do acampamento.

– Onde… – a voz de Lorna soou baixa, mas Halie pôde ouvi-la perfeitamente.

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Estava parada às costas da agora Comandante Lorna Crowley, quase dentro da barraca. Os cinco segundos que Lorna demorou para perceber que havia alguém ali foram cruciais para que Halie pudesse cumprir sua parte no plano – e, se algo tivesse acontecido de forma diferente, tinha certeza de que não teria conseguido.

E se Lorna não tivesse saído da barraca?, pensava Halie, depois de muito tempo decorrido desde a missão. Provavelmente, teria de lutar com ela, o que daria tempo suficiente aos worgens para correr em seu auxílio. Isso, ou então ela me derrotaria em um piscar de olhos e estaria tudo perdido.

Naquele momento, no entanto, enquanto encarava as costas da valiosa Lorna Crowley, as possíveis consequências de sua imprudência nem lhe passavam pela cabeça. Antes mesmo que a Comandante pudesse reagir, Halie passou os braços ao redor de seu pescoço e puxou-a para si.

– PAREM! – gritou logo em seguida, esforçando-se para que sua voz fosse ouvida em todo o acampamento. – PAREM TODOS AGORA, OU ELA MORRE!

Os worgens viraram-se em sua direção, assustados. A despeito da ameaça, Lorna Crowley riu abertamente.

– Morro de que forma? – perguntou. – Vai me sufocar? Há. Antes que consiga, terá um machado voando na direção da sua cabeça.

Halie ergueu sutilmente uma das mãos e acertou uma seta de gelo na testa do worgen mais próximo.

– Assim – sussurrou para Lorna. – Se houver um machado voando na minha direção, haverá uma flecha entrando no seu pescoço.

Godfrey, Walden e Ashbury caminharam rapidamente em sua direção. Os worgens pareciam divididos, sem saber se deveriam atacá-los ou continuar apenas olhando, obedecendo as vontades dos Renegados, com medo de que algo acontecesse à sua poderosa Comandante.

– Larguem as armas no chão – Halie ordenou. Contrariados, os worgens fizeram o que ordenou, e em um segundo a grama estava coberta de machados e adagas brilhantes. – Não façam qualquer movimento suspeito.

– Não temos medo de morrer – avisou Lorde Walden, recolhendo as armas enquanto passava. – Já sabemos como é. Mas se tentarem qualquer coisa contra um de nós, sua Comandante passará para o nosso lado.

– O que pretendem? – gritou Lorna.

Lorde Godfrey aproximou-se lentamente e olhou-a nos olhos.

– Não me reconhece mais? – perguntou, rindo. – Sou eu, querida. Godfrey.

Lorna olhou-o demoradamente, então fechou a expressão, enojada.

– Olhe no que se transformou…

Vocês se uniram a esses cães nojentos! – Godfrey berrou. – Vocês não merecem nenhuma forma de consideração… Mas eu faço o que minha Rainha ordena. Iremos levá-la conosco, Lorna Crowley.

– Uma ova! Não vou a lugar algum. Me matem, se for preciso! Prefiro morrer em defesa do meu povo a colaborar com a sua laia.

– Ah, não, não seja tola – Lorde Godfrey riu novamente. – Se nós a matarmos, você não irá apenas morrer, Lorna. Irá se tornar uma de nós. Poderemos ser bons amigos para toda a eternidade, o que acha disso? A Rainha com certeza fará bom proveito de suas habilidades em prol dos Renegados…

Lorna tremeu por um momento. Olhava para cada um dos worgens, procurando uma atitude que pudesse ajudá-la, um olhar encorajador, qualquer coisa que fosse. Os worgens olhavam-na de volta, amedrontados, impotentes e desarmados, sentindo-se humilhados enquanto eram obrigados a obedecer às ordens de um simplório e insignificante grupo de Renegados.

Halie sentiu quando a mão de Lorna escorregou sutilmente até o cabo da espada. Devia tê-la desarmado antes, pensou. Não podia deixá-la começar uma defesa, ou então estariam perdidos. Tomou uma decisão rápida e, num movimento arriscado, tirou os braços do pescoço da Comandante e acertou sua cabeça com uma cotovelada forte.

O corpo de Lorna Crowley bamboleou e desabou nos braços de Halie. Os worgens moveram-se ofensivamente, quase todos ao mesmo tempo, como se pertencessem a um único corpo, mas Lorde Walden fez com que parassem.

– Nem tentem chegar perto – disse ele, erguendo a mão ameaçadoramente. – Ela está viva. Mas não vamos hesitar em machucá-la.

Godfrey apressou-se em segurar Lorna e atirou-a sobre o próprio ombro. Os quatro Renegados uniram-se e caminharam de lado, encarando os worgens o tempo todo.

– Nenhum mal acontecerá à sua Comandante por enquanto – Godfrey gritou, já saindo do acampamento. – Isto é, se vocês forem bons cachorrinhos…

Os worgens permaneceram encarando-os até onde foi possível, alguns rosnando sem parar, outros apenas mostrando os dentes de forma intimidadora. Halie evitou olhá-los por muito tempo. Não gostava da forma como se mexiam, não gostava do modo como a olhavam, não gostava sequer de estar perto deles.

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A Grande Dama Sombria recebeu-os de forma eufórica, olhando sem parar para a figura inconsciente de Lorna Crowley. Godfrey tratou de pousá-la no chão, e Sylvana ordenou a suas Patrulheiras Sombrias que tomassem conta da inimiga capturada.

– Oh, você conseguiu! – a Rainha olhou para Halie. – Finalmente as coisas estão se encaminhando. Se Crowley não aceitar nossos termos, a filha dele se tornará uma das nossas. Não é perfeito?

– E qual é o plano, agora que já temos Lorna? – quis saber Godfrey.

– Nossos exércitos se digladiam por todo o campo de batalha – disse Sylvana. – Crowley e suas forças estão perdendo terreno, e acredito que eles ainda não saibam o que aconteceu com Lorna.

– Não por muito tempo – Ashbury interrompeu. – Com certeza já há um enviado worgen correndo para informá-los.

– É claro que há – Sylvana riu. – Mas não importa. Nós nos encontraremos com Crowley e seus compatriotas no meio do campo de batalha, e eu os informarei dos termos da rendição.

Ashbury parecia incomodado.

– E se eles não aceitarem? – perguntou.

– Transformaremos a cidade deles em poeira e ruínas.

– E quando partimos?

Sylvana não respondeu; virou-se para Halie lentamente e pousou a mão em seu ombro.

– Como minha soldado mais confiável, você ficará ao meu lado na hora da negociação. Partimos imediatamente.

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Soldado mais confiável. As palavras ecoaram na mente de Halie pelo que pareceu uma eternidade, deixando-a com a sensação de que ouvira mal. Um segundo depois, porém, seu subconsciente obrigou-a a permanecer impassível diante de tamanho elogio e a resposta saiu mais calma e confiante do que jamais imaginaria ser possível:

– Como desejar, Senhora.