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Este é o 11º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Boa leitura!


Cautelosamente, Dareon içou-se para cima até atingir o braço da catapulta, certificando-se de que alcançaria o gatilho depois de posicionado. Encarou mais uma vez a enorme figura do navio de guerra dos Renegados que, em toda sua imponência, fazia sombra sobre a batalha que ocorria na costa. Redirecionou a mira para o lugar certo – ou pelo menos para o lugar que pensou ser o certo – e não quis tomar tempo para encontrar coragem. Fechou os olhos e soltou o disparador, sentindo o impulso da catapulta atirando-o para a frente.

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Pousou em pé com um estrondo, admirado por não ter sido jogado direto na água. Ouviu passos rápidos caminhando em sua direção e rapidamente agachou-se atrás de uma escada. Pelos vãos abertos entre os degraus, enxergou a figura de um vigia Renegado no andar superior, examinando o cais do navio com os olhos à procura da fonte do barulho.

Dareon não conteve o impulso de farejá-lo. Arreganhou os dentes ao sentir o cheiro de putrefação que exalava de todo o navio, rosnando baixinho sob a escada. Observou o morto-vivo descer as escadas vagarosamente, com as armas em punho, olhando freneticamente para os lados. Então decidiu que não o deixaria atrapalhar seu plano.

Puxou o Renegado pelo pé, aproveitando o momento em que caía para sair de baixo das escadas. O morto-vivo recuperou-se rápido, erguendo o corpo e as espadas ao mesmo tempo. Dareon arrancou-as de suas mãos assim que estiveram ao seu alcance, deixando-o desarmado, coberto apenas com a pouca armadura que vestia. Ergueu o olhar para encará-lo no rosto, em parte coberto por uma corrente escura e envelhecida, que quase se misturava à sua pele esbranquiçada.

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Sentiu uma mistura de compaixão e ódio pelo morto-vivo. Rosnou alto e arranhou-o com suas garras compridas, empurrando-o com as patas. O Renegado caminhou para trás, tropeçando nos próprios pés, esticando os braços para a frente numa tentativa desesperada de atacar o invasor.

Dareon preocupou-se com o barulho. Àquela altura, certamente alguém deveria ter ouvido os sons da luta e estaria ali em instantes para ajudar o companheiro. Segurou as mãos cinzentas do vigia, fazendo-o recuar ainda mais até que conseguiu encostá-lo na pequena amurada do navio. Imobilizado e sem ter para onde correr, o morto-vivo alarmou-se quando escutou o som do machado que Dareon desprendera do cinto.

O marinheiro Renegado parou de lutar repentinamente e ergueu a cabeça. Diante da atitude inesperada, Dareon também ficou imóvel por um instante, segurando o machado no ar. Um segundo depois, antes de a lâmina alcançá-lo, o morto-vivo impulsionou seu corpo para trás e deixou-se cair na água.

Dareon ouviu o barulho que fez o corpo ao mergulhar. Sozinho, então, olhou para os lados, achando estranha a cena que acabara de presenciar. Atou novamente o machado à cintura e permaneceu ali durante mais um momento, encarando a enorme extensão de água que se abria à sua frente.

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Obrigou-se à examinar o navio depois disso. Mais nenhum Renegado havia aparecido para defender o navio e a parte externa estava deserta. Dareon concluiu que todos os marinheiros precisaram descer para lutar em terra firme, uma vez que também a guarnição de Guilnéas era forte. Encontrou duas pequenas portas que levavam ao interior do navio. Escolheu ao acaso uma delas para entrar e desceu as escadas, até encontrar um porão escuro e entulhado de armas e suprimentos.

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Dareon aproximou-se cautelosamente, esgueirando-se por trás de enormes canhões e caixas de munição. Escutou um barulho logo adiante e parou por um momento, observando o interior de uma pequena saleta ao final do porão. Uma silhueta alta e esguia projetou-se contra a luz que saía da porta e logo entrou novamente.

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Oculto pelos entulhos, Dareon tentou analisar a sala. Conseguia ver uma lamparina, cuja luz iluminava diversos mapas espalhados pela mesa e outros enrolados nos cantos. Havia garrafas jogadas no chão, e o morto-vivo, equilibrando seu enorme chapéu pontudo no topo da cabeça, caminhava de um lado para o outro enquanto examinava pergaminhos corroídos.

Estava ali o capitão que precisava matar, soube prontamente. De longe, aparentava ser um alvo fácil: não era grande, tampouco usava armadura. Além de tudo, ainda parecia estar meio zonzo, bamboleando-se de cima para baixo na pequena saleta nos fundos do porão.

Dareon aproximou-se devagar, tentando não causar alarde, mas o capitão ouviu algo e saiu da cabine. Bateu uma vez em um dos canhões, causando um ruído seco que se espalhou pelo porão abafado. Então Dareon atacou-o por trás.

– Mas q…

O Capitão Anderson até tentou se defender, saltando para trás de uma pilha de caixas vazias e gritando por ajuda inutilmente, mas Dareon era mais forte e tinha seus sentidos em perfeitas condições. Apesar da vantagem, no entanto, não quis machucá-lo – queria apenas acabar com aquilo de uma vez. Esqueceu-se, então, das instruções de Godfrey para que matasse todos mortos-vivos que encontrasse da forma mais brutal possível e aproximou-se tranquilamente.

– Você já morreu uma vez – disse ao Capitão, enquanto segurava seu pescoço. – Deveria ter permanecido assim.

Depois de abatê-lo, pulou por cima do corpo e correu para fora do navio. A batalha continuava se desenvolvendo da mesma forma do lado de fora e ninguém prestou atenção quando Dareon atacou outro maquinista Renegado e arrancou-o de cima de sua catapulta.

Mais uma vez, serviu de munição no braço da catapulta e se atirou para o cais do outro navio de guerra dos Renegados, que estava completamente vazio. Desta vez, precisou segurar-se na rede que pendia de um dos mastros para não aterrissar direto na água, do outro lado do navio.

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Não esperou para ser interrompido por vigias e correu direto para uma das entradas do navio. Desceu direto ao porão e, ao fundo, encontrou uma cabine parecida com a anterior. Logo avistou o capitão e constatou que tinha uma aparência muito mais apresentável do que a do pobre marinheiro que matara no primeiro navio.

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Escondeu-se entre as caixas e os canhões, saindo quando podia para correr até a próxima fenda para não se mostrar tão cedo ao inimigo. Conseguiu aproximar-se da porta e encarou as duas espadas embainhadas que pendiam do cinto do capitão, aguardando que ficasse de costas para sair de seu último esconderijo.

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Dareon adentrou a cabine com um salto. Capitão Morres virou-se na sua direção, já ocupando as mãos com as espadas que desembainhara prontamente. Dareon tirou seu machado do cinto e deixou a adaga solta na bainha, para pegá-la com facilidade se precisasse.

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Naquela saleta minúscula, os dois lutaram arduamente durante alguns minutos, até que Dareon aproveitou quando o capitão cruzou suas espadas para travá-las com o cabo de seu machado e usou o peso de seu corpo para empurrar o capitão para trás e prensá-lo contra o vidro da janela fechada.

O Capitão encarou-o por um momento, então apertou os olhos com força quando Dareon encaixou a lâmina do machado entre suas costelas à mostra. Ainda deu dois passos para a frente, brandindo suas espadas a esmo, até que, por fim, caiu no chão de madeira com um baque surdo que ocoou por todo o porão.

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