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Este é o 15º artigo de 23 posts da série Renegada.

 

Halie encarou com tristeza os três antigos magos de Dalaran, que agora não passavam de uma pilha de ossos enfiada dentro de trapos escuros, apenas um vislumbre de toda a grandiosidade que um dia possuíram.

– Halie – Sylvana chamou, esticando o livro encantado em sua direção. – Aqui, pegue o códice. Vá até o Sepulcro e encontre Dalar Tessalba, um velho arquimago do Kirin Tor. Com certeza ele conseguirá derrubar as proteções mágicas do códice e descobrir os segredos nele contidos.

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Halie recebeu o códice de suas mãos e correu até o tratador de morcegos para pedir uma carona até o Sepulcro – demoraria tempo demais indo à cavalo, e, a julgar pela urgência na voz, parecia que a Rainha precisava daquilo o mais rápido possível.

Voou pela Floresta de Pinhaprata agarrada ao códice, segurando-o com firmeza junto ao peito enquanto mantinha os olhos apertados, esforçando-se para não olhar para baixo. As runas azuladas dançavam ao redor das bordas do livro e deixavam um leve risco no ar, traçando o caminho brevemente enquanto avançavam.

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Quando o morcego pousou – felizmente, depois de um tempo muito menor do que Halie esperava –, abriu os olhos de vez e saltou de cima da montaria, cambaleando e sentindo-se grata por pisar em terra firme. Acomodou melhor o códice nos braços, depois de revistá-lo por inteiro para se certificar de que estava tudo bem, e acenou com a cabeça para o tratador de morcegos local.

– Sabe onde posso encontrar Dalar Tessalba? – gritou.

– Um bom dia para você também – respondeu o tratador, ajeitando seus óculos cor-de-rosa em cima do nariz. – A propósito, sou Carlos Razok, ao seu dispor.

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Halie esforçou-se para não revirar os olhos.

– É um prazer conhecê-lo, Carlos Razok. Como vai você? – disse sofregamente. – Onde está Dalar Tessalba?

– Minha nossa, que pressa. Vou bem, obrigado – o tratador pousou o olhar no códice e apontou. – O que é que você tem aí, hein?

Impaciente, Halie jogou o peso do corpo para a outra perna e encarou-o muito séria.

– Ai, minha nossa, está certo – Carlos Razok olhou na direção do maior prédio ao alcance da visão. – Ali dentro.

Halie correu no curso indicado, seguindo por uma estreita trilha que terminava na entrada de uma estrutura alta e sombria. Antes de entrar, ainda conseguiu ouvir o tratador de morcegos gritar um “de nada” muito indignado de longe, mas não parou para dar-lhe atenção.

Não sabia o que esperava ao certo, mas com certeza não era aquilo que viu ao adentrar a minúscula câmara que servia de recepção do prédio. Era um lugar pequeno e gélido, sem qualquer móvel para ocupar espaço. Estava completamente vazia, a não ser pela figura de um morto-vivo no centro da sala, encarando-a com uma expressão de poucos amigos.

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– Olá – disse Halie após alguns, ainda achando estranha aquela situação. – Eu vim… preciso falar com Dalar Tessalba. É você?

O morto-vivo negou com a cabeça e apontou para trás. Halie precisou esforçar-se para conseguir enxergar a escada de pedra que levava até um compartimento subterrâneo, meio escondida na parte dos fundos do prédio.

– Oh – murmurou, dando a volta na sala para chegar até a escada –, certo, então… Obrigada.

Desceu as escadas com pressa e logo ouviu uma voz forte soar de dentro da câmara subterrânea. Antes que chegasse, uma figura vestida em trajes de mago apareceu na entrada e encarou-a com curiosidade.

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– Dalar Tessalba? – perguntou Halie, esperançosa.

– Sim – disse o morto-vivo, olhando-a debaixo de seu chapéu de ponta. – O que é?

– Oh, finalmente – Halie esticou o códice para o mago e observou a saleta. Era um lugarzinho úmido e escuro, tomado por caixões e jarras quebradas. Algumas velas pela metade deixavam o ambiente ainda mais lúgubre, espalhando sombras múltiplas por todas as paredes. – A Rainha Banshee me enviou à sua procura. Encontramos esse livro, que foi selado pelos antigos magos de Dalaran. Precisamos que o abra.

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– A Dama Sombria requisita minha perícia? – perguntou Tessalba, pegando o livro com avidez. – Mas é claro! Me dê isso aqui, vamos ver…

Halie aguardou pacientemente enquanto o mago examinava o códice, passando o dedo dezenas de vezes por suas laterais. Enfim, após algum tempo, Dalar Tessalba estalou os lábios e balançou a cabeça em desaprovação.

– Sylvana estava certa em me enviar o códice – murmurou. – Mas, infelizmente, eu precisaria de um anel-sinete para abri-lo. O meu anel me foi tomado quando morri, mas… Sim, penso que ainda há um jeito. O anel-sinete de qualquer arquimago de Dalaran servirá para isto.

– Mas…

– É, eu sei, Dalaran flutuou para longe – Tessalba completou. – Mas os arredores da cidade ainda continuam no mesmo lugar. Muito longe daqui, a propósito. Mas é lá, nas ruínas de Dalaran, que você encontrará um arquimago chamado Relios, o Guardião de Relíquias. Eu posso fazer um portal para você ir até lá agora, só me dê um segundinho…

– E ele tem um anel-sinete, esse Relios?

Dalar Tessalba terminou de conjurar um portal brilhante antes de responder.

– Tem, sim. Você pode… hum, pedi-lo emprestado e trazê-lo para mim.

Sem muita convicção, Halie assentiu com a cabeça e entrou no portal, deixando para trás um morto-vivo animadíssimo com a ideia de ser útil à Dama Sombria.

Levou algum tempo para adaptar-se à luz rósea que emanava da cratera que um dia havia sido Dalaran. Quando finalmente pôde abrir os olhos, estava em um terreno completamente irregular, tomado de criaturas etéreas, que vagavam sem rumo por entre as fendas, tão brilhantes quanto assustadoras – e, como Halie não demorou a descobrir, nada dóceis.

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Precisou escalar algumas pedras e se esforçar para deixar o centro das ruínas. O chão era escorregadio e a luz, traiçoeira. Escorregou algumas vezes até que conseguiu subir ao topo da cratera de Dalaran, além de precisar lidar com cada um dos seres arcanos que aparecia em seu caminho.

Na terceira ou quarta vez em que parou para matar as criaturas – que emitiam uma luz insuportável quando se sentiam ameaçadas –, Halie observou melhor a pequena fonte de energia que restava quando eram abatidas. Segurou na mão a pequena esfera luminosa e decidiu que talvez fosse uma boa escolha guardar algumas delas para Tessalba examinar melhor.

Havia perdido a noção do tempo quando, com muita dificuldade, conseguiu chegar ao topo da cratera. O susto que tomou ao ver um local cheio de casas de madeira e pessoas trabalhando foi imenso, uma vez que esperara se deparar com outra área tão assimétrica e desolada quanto a que existia na parte de baixo. Agachou-se atrás de uma porção alta de terra e observou o que se passava.

Alguns magos vigiavam a pequena vila, para lá da barreira de luz que cobria a cratera. Havia ainda outras pessoas trabalhando nas reconstruções das pequenas casas, a maioria com pelo menos um dos lados completamente destruídos. Halie apertou as mãos contra o peito, nervosa pelo obstáculo imprevisto, mas continuou dando a volta pelo terreno, escondendo-se na parte acidentada, temendo um alarde desnecessário sobre sua presença.

Olhava em todas as direções, procurando alguma figura que se distinguisse das demais e pudesse ser Relios. Não sabia ao certo como e onde procurá-lo, mas pensou que, se estivesse em algum lugar, provavelmente seria perto dali.

Demorou mais tempo do que desejava até que finalmente avistou um homem de meia idade vestido com trajes trabalhados, caminhando calmamente com o auxílio de seu cajado, que apoiava no chão a cada passo. Aguardou que se afastasse o máximo possível do resto da comunidade e só então saiu de seu esconderijo, sem saber muito bem como deveria abordá-lo.

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– Hum, olá? – disse baixinho, aproximando-se por trás. – Você é Relios, o arq…

– Quem vem aí? – perguntou, virando-se repentinamente com o cajado na mão.

– Aqui, desse lado – Halie chamou. – Eu sou…

– RENEGADO! – gritou o homem. – RENEGADO! ATENÇÃO!

– Não, não, não há necessidade, eu venho por parte de Dalar…

Sua explicação foi interrompida por um choque na região do peito. Relios, o Guardião de Relíquias, vinha correndo em sua direção, com o cajado já atado às suas costas, murmurando uma série de palavras estranhas que faziam com que uma luz arroxeada emanasse de suas mãos.

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Depois do segundo ataque, Halie desistiu de tentar dissuadi-lo e também preparou-se para fazer o que sabia. Antes de conjurar sua sela de gelo, uma coisa cor-de-rosa que brilhava em um dos dedos do mago chamou sua atenção. Ali está.

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Relios ficava mais fraco a cada seta que o alcançava. Em certo ponto, quase não podia mais andar, e suas tentativas de feitiço – quando conseguia completá-los –, não passavam nem perto do alvo. Halie olhou-o com pena antes de lançar uma última seta de gelo, após o que o velho mago caiu de joelhos e tombou no chão, de olhos fechados.

Correu até ele e pousou a mão em seu peito. Ficou aliviada por constatar que não o matara, afinal, mas sabia que o homem demoraria a se recompor novamente. Aproveitando a inconsciência de Relios, Halie tirou o anel de seu dedo e guardou-o carinhosamente em seu bolso. Tinha dado cinco passos na direção da cratera quando ouviu o barulho de passos rápidos. Virou-se lentamente para ver uma multidão de indivíduos correndo em sua direção, empunhando todo tipo de armas e berrando os mais variados insultos contra a morta-viva que atacara seu bom líder.