Ei! Hoje é dia de roleplay, mas antes de começar esse capítulo eu gostaria de falar com você (é, você mesmo) que não liga de perder um tempinho lendo histórias. Você, azerothiano, que gosta de roleplay e de lore, você que acompanha a coluna e os caminhos das nossas personagens. Eu preciso da sua ajuda.
“Da minha ajuda, Vanessa?”
É, da sua ajuda.
Como eu escrevo por conta própria e sigo o meu entendimento das histórias, a sua opinião é muito importante para mim. 😀 Por isso eu leio tudo o que me mandam e fico feliz quando alguém dá alguma sugestão ou faz alguma crítica – aí eu consigo continuar fazendo o que está certo e arrumo o que estiver errado. Além do mais, algumas sugestões realmente me conquistam e eu já estou me preparando para utilizá-las no futuro.
Para acabar com o recado logo e ir direto ao que interessa, é o seguinte: se manifeste para tirar alguma dúvida, demonstrar a sua opinião, sua crítica ou sugestão (qualquer elogio é sempre uma motivação, criticas ajudam a gente a melhorar e tudo é bem-vindo). Comente nos posts, fale comigo in-game, tanto faz. Essa coluna é para você e eu quero muito saber o que você está achando.
Agora sim. Boa leitura! 😛
Ellis não sabia se estava muito decidida ou muito triste. Talvez um pouco dos dois, pensou enquanto olhava para o corpo de Lu ainda estendido no chão em frente à plantação.
– Está tudo bem? – perguntou o Tenente, aproximando-se lentamente. – Deve estar sendo difícil para você… Logo de primeira pegou um caso desses. E isso que aconteceu com o Lu… Olha, essa história está indo por um caminho completamente inesperado. Se você precisar de alguma coisa… sabe, um tempo, um descanso, um café…
– Eu… não se preocupe, está tudo bem. – Ellis sorriu. – Obrigada, Tenente. De qualquer forma, acho melhor continuarmos…
– É… certo. Então, o que descobrimos até agora? – o Tenente coçou o queixo e apoiou-se na cerca. – Temos que seguir as pistas. No Sítio dos Jansen, você achou uma carta molhada e uns retalhos vermelhos. Aqui, na fazenda, você escutou uma conversa entre um vulto sombrio e um ogro-mago. Você também conseguiu uma confissão de assassinato de um bando de criminosos, que você acabou matando depois.
Ellis pensou naquilo tudo pela enésima vez. Mas agora, ao ouvir o resumo do Tenente, tudo parecia tão idiota que começou a sentir vergonha de sua investigação medíocre.
– Algo não se encaixa, novata.
Ah, claro, pensou Ellis, eu nem tinha percebido.
– É o seguinte – continuou o Tenente Horatio. – Tem um casal de velhinhos que mora numa fazenda a sudeste daqui. Vá até lá e dê um aperto nos Saldanha para tentar descobrir alguma coisa.
Obedientemente, Ellis partiu em busca do fazendeiro Saldanha. Até começou a achar que seria uma boa ideia ir para outro lugar e conhecer pessoas novas, mesmo que precisasse voltar logo para junto do Tenente.
A fazenda dos Saldanha tinha absolutamente o mesmo padrão de todas as outras da região. Nada de mais. Apenas umas casinhas de madeira erguidas em meio ao nada com uma plantação quase totalmente destruída em frente.
Em frente à casa principal, um homem a observava se aproximar. Pelo que Ellis notara, ele a havia avistado de muito longe e acompanhara seu caminho com o olhar desde muito longe.
– Hum, olá – disse ela quando chegou perto o suficiente. – O senhor pode me dizer onde encontro o fazendeiro Saldanha, por gentileza?
– Da parte de quem? – o homem perguntou, desconfiado.
– Ellis, de Elwynn.
– Ah! – ele exclamou muito alto. – Elwynn! Lá vocês devem ser mais felizes, acho eu. Veio pra cá por quê? Esse lugar é terrível! Vivi em Cerro Oeste vida toda, moça. Me lembro de quando isso aqui era a terra mais viçosa do lado de cá da Selva do Espinhaço. – balançou a cabeça tristemente. – Mas tudo isso ficou para trás. Os Défias já não andam por aí causando transtorno, você sabe, mas as consequências do seu reinado de terror ainda se fazem sentir. Para piorar, estamos no meio da maior crise econômica da história. Todo o ouro que gastamos para lutar contra o Flagelo deixou todo mundo que não era militar desempregado e até mesmo desabrigado. Pois adivinha onde esse pessoal todo foi parar?
– Eu sinto muito, senhor.
Ellis sabia daquilo tudo. Sabia da desgraça que fora aquela época, sabia do sofrimento das famílias desempregadas, sabia da nova legião de desabrigados que surgira e se instalara em qualquer canto que proporcionasse alguma mísera condição de vida.
Também ela e sua família haviam sofrido. Seu pai havia perecido na luta contra os mortos-vivos enquanto fazia parte da Cruzada Escarlate, então sua irmã mais velha fora obrigada a sair de casa para procurar algum emprego no norte de Reinos do Leste. Também ela não voltara mais para casa.
Desde pequena Ellis aprendera a odiar o Flagelo. Primeiro porque eram os mortos-vivos a razão de seu pai ter saído de casa para se juntar à Cruzada. Segundo, porque eram eles também a razão de toda a crise. Para Ellis, eram eles o motivo de tudo o que havia de pior do mundo.
– Do que estávamos falando? – perguntou o homem.
– Hum… do fazendeiro Saldanha. – disse Ellis, deixando de lado seus devaneios odiosos. – O senhor saberia…
– Sou eu mesmo, moça. Mas quem vem a ser a senhorita, exatamente?
– Sou parte da equipe do Tenente Horatio Laine. Estamos por aqui investigando um caso muito… hum, muito peculiar. – Ellis ponderou rapidamente o que poderia revelar ao fazendeiro para ganhar um pouco mais de sua confiança. – Os Taturana foram assassinados, como o senhor deve ter ouvido falar, e, durante nossa investigação, aconteceu mais uma morte suspeita. O Tenente me mandou até aqui para conversar com o senhor. Talvez…
– Horatio Laine? – Saldanha fez uma careta. – Aquele homem é um asqueroso. Mais sujo que a minha cueca. Escuta aqui, minha amiga, eu não costumo dar conselhos, mas você parece ser uma boa pessoa. Se manda de Cerro Oeste!
– Senhor, desculpe, mas eu só precisava de uma palavrinha. O senhor sabe, talvez tenha acontecido algo por aqui que possa nos ajudar a…
– Moça – o fazendeiro a cortou calmamente. – Você já está envolvida até o último fio de cabelo e estão dando corda para você se enforcar.
Ellis não soube o que responder.
– Mas… bem, já que você está aqui para ajudar… – ele continuou. – Estamos passando por tempos difíceis, dona. Com a migração de massas de oprimidos de Ventobravo para Cerro Oeste, nossas reservas estão mais baixas do que nunca. O povo está inquieto e precisando de ajuda. Até a sede de nossa fazenda vem sendo usada como casa de passagem há anos. A Salma faz o que pode para proteger os hóspedes, mas às vezes alguns caem nas mãos dos guarda-colheitas, que são perversas abominações que perambulam por nossas terras, uma lembrancinha deixada pelos Défias antes de serem expulsos daqui. Ajude-nos!
Ellis suspirou. Não podia dizer não àquela gente. Ao entrar na casa, conheceu Salma Saldanha e os órfãos que o casal ajudava, os quais se aqueciam em frente à lareira. Os Saldanha eram pessoas simples e de bom coração que precisavam desesperadamente de sua ajuda.
– Olá, querida – disse a mulher. – Bem-vinda à nossa casa. Você não parece ser uma desabrigada. Veio para nos ajudar? Se veio, não poderia ter chegado em melhor hora!
Ellis decidiu dispor de um pouco de seu tempo para ajudar os Saldanha. Por eles e pelas crianças esfomeadas que lhe dirigiam olhares esperançosos enquanto anotava os pedidos de Salma.
Não precisavam de muita coisa, afinal. Eram apenas algumas provisões para preparar um jantar decente – coisa que não tinham havia muito tempo, uma vez que os guarda-colheitas dominavam as plantações.
– Bendita seja – disse Salma quando Ellis lhe entregou um saco cheio de comida. – Faz dias que esses órfãos não comem uma refeição decente. Hoje vou poder fazer minha especialidade, o ensopado de Cerro Oeste. E aposto que ainda vai sobrar o suficiente para alimentar muitos desabrigados.
– Obrigado, Ellis – disse um órfão de repente.
Ellis sorriu e despenteou-lhe os cabelos com carinho.
– Não tem de quê, querido. – respondeu – Não tem de quê.
Ellis deixou dona Salma ocupada com seus ingredientes e se dirigiu ao fazendeiro Saldanha, que limpava o chão do lado de fora da casa.
– Você fez um grande favor para a Salma e para mim – disse ele. – Prometo que não vou me esquecer disso. Agradecemos a gentileza, dona. Faz muito tempo que ninguém nos ajuda. Se você não tivesse aparecido aqui, é possível que a gente não sobrevivesse ao inverno. Você já provou que é altruísta, que é alguém em quem se pode acreditar. Ah, como eu queria ter algo de valor para lhe dar!
– Não se preocupe com isso, senhor Saldanha. Não faço pela recompensa.
– Eu não sei de nada que possa ajudar você nessa cruzada para pegar os assassinos dos Taturana, mas, pensando bem, talvez a minha mulher possa ajudar. Já falou com ela sobre isso?
Ellis correu de volta para dentro da casa e questionou Salma.
– Hum. – começou Salma, pensativa. – Nossa filha trabalha no Morro da Sentinela e conhece de perto os desabrigados de Cerro Oeste – disse a mulher enquanto cortava a carne. – É possível que ela tenha ouvido alguma conversa e saiba de algo.
– Oh, vocês têm uma filha? – perguntou Ellis. – Ela mora aqui?
– Infelizmente não. – respondeu Salma. – Deixe-me lhe contar a história da nossa menininha. Há cerca de quatro anos, na calada da noite, uma menina entrou correndo na sede da fazenda e desmaiou no meio da sala. Ninguém conhecia a garota, e ela não se lembrava de quem era ou de onde vinha. Era uma verdadeira alma perdida.
Ellis ouvia com atenção o relato da mulher, observando-a preparar o ensopado com pressa.
– Pouco tempo depois, nós a adotamos e batizamos como Esperança, que é o que ela representou para nós. Entende? Foi uma esperança para o povo. – Salma sorriu carinhosamente. – Agora ela já é uma mocinha e cuida dos desvalidos e desabrigados de Cerro Oeste. Oh, Ellis, você pode me fazer uma gentileza? Quando for embora, leve um pouco de ensopado para minha filha. Ela está ali no Morro da Sentinela, a sul daqui.
Ellis esperou o jantar ficar pronto e comeu à mesa da família Saldanha. Mas logo se apressou em ir embora, já que precisava descer até o Morro da Sentinela antes de voltar com – ou melhor, sem – notícias para o Tenente.
Ao se lembrar do Tenente, Ellis pôs-se a pensar sobre o que ele acharia de todos esses favores que estava realizando para ajudar os Saldanha. Devia estar de volta há muito tempo, uma vez que sua missão era somente interrogar o casal. A despeito disso, lá estava ela, indo na direção oposta para entregar um pote de ensopado a uma menina que nem conhecia.
A entrada do Morro estava repleta de retirantes e andarilhos esfomeados que suplicavam por ajuda. Alguns acampavam junto das torres e dormiam no chão.
Ellis encontrou Esperança Saldanha dentro da Torre da Guarnição do Morro da Sentinela. Ao recebê-la, a garota foi extremamente amigável.
– Hum, que cheirinho de ensopado de Cerro Oeste – ela deu uma risadinha. – Foi minha mãe quem mandou você aqui?
– Sim – respondeu Ellis. – Como você soube? Bem, fui até a fazenda dos seus pais atrás de informações acerca do assassinato dos Taturana. Por acaso você ouviu algo a respeito disso?
– Oh, eu ouvi falar do assassinato dos Taturana. Foi muito triste, mas tragédias assim são rotina em Cerro Oeste. Muita gente aqui não tem como ou não tem mais ânimo para comer. Perderam todas as esperanças.
– Comer? – perguntou Ellis, confusa pela mudança de assunto repentina. – Eu sei que tem muita gente passando necessidades, e é realmente muito lamentável, mas os Taturana…
– Oh, sim. – disse Esperança. – Dá para entender o que significa estar tão desamparado a ponto de desistir de viver? – ela segurou as mãos de Ellis e a olhou nos olhos com uma expressão emocionada. – Temos que trabalhar juntos para mostrar a essa gente que ainda há esperança. Que, com o alvorecer de um novo dia, virá uma vida melhor!
Ellis a encarava, sem saber o que dizer diante do discurso apaixonado e decidido da garota.
– Quer saber? – ela continuou. – Saco vazio não fica em pé! Acho que é melhor você pegar esse ensopado e ajudar a alimentar os desamparados do Morro da Sentinela.
Ellis assentiu e, fingindo estar animada com a perspectiva, saiu da Torre carregando de volta o ensopado. Após se distanciar o suficiente e ter certeza de que Esperança – que permanecera onde estava, lhe dando tchauzinhos eufóricos de longe – não podia mais vê-la, Ellis fechou a expressão alegre e começou a andar mais devagar.
Enquanto distribuía as porções entre os desabrigados, tentou definir o que lhe perturbava. Não tinha certeza do motivo, mas algo naquela menina a incomodava. Talvez fosse sua euforia repentina e seu comprometimento exagerado com a causa dos mendigos.
Mas qual era o problema, afinal? Sua efusividade excessiva? Isso não era nem um problema de verdade, só uma característica peculiar da garota. Ellis tentou afastar os pensamentos subversivos e continuou com sua tarefa. Quando o ensopado estava quase no fim, no entanto, algo lhe veio à mente: alguma coisa em Esperança lhe era muito familiar. Por isso não conseguira reagir ao seu discurso. Seu subconsciente devia estar o tempo todo procurando a fonte da semelhança.
Não sabia o que se assemelhava a que, mas definitivamente havia alguma coisa. Ellis sentia um nó na garganta.
Conheço essa menina de algum lugar.