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Brothogg, o Senhor de Escravos. tinha bem uns três metros de altura, um e meio de largura e uma cara tão feia que já devia ter matado muita gente de susto. Isso sem contar a barriga toda aberta, as entranhas podres se arrastando pelo chão e os ossos expostos, além dos três braços, cada um deles carregando uma arma mortal. E o cheiro…
– Que coisa bizarra… – murmuravam os que nunca o tinham visto e agora espiavam de longe, escondidos por pilares e mais pilares de rochas empilhadas, enquanto os pobres coitados que já haviam se habituado à sua presença ameaçadora apenas tremiam ante a possibilidade de enfrentá-lo.
Dareon não os culpava. Também estava morto de medo, mas não podia deixar que percebessem. Pobres almas, pensava, encarando os rostos sujos e cansados dos aldeões e imaginando todo o sofrimento pelo qual deviam ter passado naquele lugar tenebroso.
– Tem certeza de que é uma boa ideia? – perguntou um deles.
– Se não o derrotarmos, amanhã haverá outra vila incendiada e outras dezenas de aldeões escravizados – respondeu Dareon, esforçando-se para não falar alto. – Não nos adianta apenas eliminar alguns Renegados e achar que a guerra está ganha. Logo, eles serão substituídos pelo triplo de mortos-vivos e nossa situação piorará. A última coisa que queremos é que mais pessoas passem pelo que vocês passaram nas mãos desses projetos de criaturas, não é?
Assim como o rapaz que conheceram na entrada da mina havia concluído, o grupo realmente cresceu. Depois de libertarem todos os aldeões da Vila da Pedra Incandescente, Dareon fez as contas e constatou que tinha oitenta e sete aliados para lutar contra um monstro enorme e muito perigoso. E esses três Renegados que o cercam, que não farão diferença alguma… Sim, talvez pudessem travar uma batalha justa.
De fato, os Renegados haviam subestimado o poder dos guilneanos. Para cuidar de toda a mina e daquela quantidade absurda de prisioneiros, havia apenas dezenove mortos-vivos. Por sorte, Brothogg estava no fim da mina e, à exceção dos Renegados que o cercavam, todos os outros estavam liquidados.
– Precisamos agir – alguém sussurrou. – Logo eles vão notar que algo está errado.
Dareon assentiu, se perguntando como é que todo aquele amontoado de gente ainda não havia sido detectado pelos inimigos. Eles não devem ter um olfato muito bom…
– Quero quinze homens na linha de frente – disse. – Desviem a atenção dos Renegados e os subjuguem. Precisa ser rápido. Os atiradores ficarão de prontidão para agir caso algo dê errado. Atacaremos logo em seguida. Juntaram as correntes como eu pedi?
Alguns chacoalharam a cabeça em confirmação, erguendo as enormes e pesadas correntes que antes lhes prendiam os pés.
– Ótimo! – Dareon animou-se. – Preciso de duas pessoas segurando cada corrente, uma em cada ponta. Vocês terão de ser corajosos de uma forma que talvez jamais imaginaram ser possível…
– Somos muito corajosos – veio uma voz confiante do escuro.
– Certo, isso é incrível – sorriu Dareon. – Eu sei que o que peço é algo sério e muito difícil, mas pensem que estão lutando por vocês e por toda Guilnéas. Uma guerra é feita de batalhas, senhores… E esta nós vamos vencer.
Duas mulheres que seguravam uma corrente se aproximaram.
– O que vamos fazer com as correntes? – quiseram saber.
Dareon quase riu.
– Vamos… Enrolá-lo. Isso mesmo. Até que ele seja derrubado, e seus três braços estejam bem presos e as armas longe de seu alcance, até que ele vire nada mais do que uma lesma gigante se debatendo no chão.
As duas moças engoliram em seco, preocupadas, e Dareon ouviu um burburinho crescendo entre o grupo.
– Ei, não se perturbem! – disse. – Quem estiver segurando as correntes, fica para trás. O plano é o seguinte: assim que os homens da linha de frente assaltarem os mortos-vivos, o resto de nós vai iniciar a luta com Brothogg. Quando ele estiver de costas, vocês correm até lá e o cercam com as correntes. Comecem pelas pernas, assim ele cai mais rápido.
Depois de alguns instantes de silêncio, alguém murmurou:
– Parece um bom plano.
– É um bom plano, amigo. Agora chega de conversa e vamos botá-lo em ação, antes que vá tudo por água abaixo – Dareon revirou os olhos e continuou resmungando enquanto todos se aprumavam. – Vocês falam demais…