Hoje é Dia Internacional da Mulher! Dia que tradicionalmente nos sentimos confortáveis e no dever de trazer alguns debates aqui no site mais voltados para discutir o gênero feminino no universo dos jogos online. É um dia que parece que temos licença para expor algumas das nossas demandas, temos espaço para sermos ouvidas, para tratar de assuntos que em qualquer outro dia do ano seria só mais um post de “mimimi feminista“. E é por isso que ele é tão importante: em um dia do ano, nós finalmente temos espaço para expor tudo o que fica entalado na garganta durante o restante do ano inteiro.

Parece injusto, não acham?

Não é novidade que ser mulher em qualquer profissão no Brasil significa ganhar menos que um homem. Não é novidade dizer que pouquíssimos lares possuem uma figura masculina que faça os mesmos afazeres domésticos que a esposa, companheira, mãe ou irmã. E isso é cultural, vêm de herança de milênios de dominação masculina ditando o papel da mulher como reprodutora, dona de casa e submissa ao pai e ao marido posteriormente. E aí que estamos em 2017 e ainda temos que brigar pra mudar isso.

Sério, cansa.

A discussão desse ano aqui no site vai além de pedir pela não-sexualização das personagens femininas, vai além de pedir personagens mulheres fortes e menos vitimizadas, muito além de pedir menor uso de esteriótipos femininos ou respeito nos games. Porque essas coisas a gente simplesmente não tolera mais. Nós somos maioria no mercado de games, somos escritoras, somos streamers, somos youtubers e somos jogadoras fantásticas. E você, homem presente nos jogos junto com a gente, que acompanha o trabalho de milhares de mulheres fantásticas na sua família, na sua cidade, no país e em todo mundo, sabe disso. Não há nada que uma mulher não possa fazer, nada que a faça “menos” que você, nada que ela não conquiste sozinha, com apoio ou sem. E você sabe que já estamos em uma época onde dizer que mulher é o sexo frágil, que mulher serve pra lavar sua louça ou preparar seu sanduíche, ou que mulher não sabe jogar porque ali não é o lugar dela, ou que tentar nos agradar esperando uma “recompensa”… isso tudo só te faz um serzinho de cérebro do século 15.

Então o post desse ano é pra dizer: se nos atacar, vamos atacar. Não porque queremos atacar, mas porque estamos mais unidas do que nunca.

Se rainha Inês Brasil falou, tá falado.

Você com certeza já ouviu palavrinhas como empoderamento, sororidade, feminismo, e provavelmente se assustou com elas. Porque ser feminista representa uma luta de séculos pelos direitos iguais efetivos das mulheres na sociedade, o que na prática não acontece. A palavra sororidade vem da proposta de dizer que toda mulher é irmã, que temos que ser solidárias e empáticas às dores das demais mulheres, mostrar que sofremos as mesmas coisas (em maior ou menor intensidade) e devemos nos proteger juntas. É a sororidade que faz uma mulher brasileira se indignar sobre um estupro acontecido no bairro vizinho ou no Irã, de alguém que ela conhece ou nunca ouviu falar. Significa “compreendemos sua dor, e queremos que você nunca mais passe por nenhuma violência“, significa que podemos contar umas com as outras. E empoderar significa dizer e acreditar que nós somos belas, fortes e muito melhores do que achamos que somos ou do que dizem que somos. É mostrar que você não precisa alisar o cabelo pra se sentir bonita porque a televisão mostra isso de você, ou ser magra para ser bonita, ou acreditar que ser gorda é um defeito, e que não temos que aceitar o que ninguém diz de ruim de nós mesmas.

Então se assuste mesmo: porque o último ano, e acredito que os próximos, mostraram que as mulheres de todos os setores estão se cansando de abaixar a cabeça pra tanta coisa ruim e brochante que nos acontece. E óbvio que nos games não será diferente. 🙂

Porque é a força de mulheres que querem tomar juntas o que é de direito delas, espaço que historicamente tem sido majoritariamente masculino. E pra gente não tem sido fácil: é xingamento, é ameaça, é apropriação do nosso corpo, é boato, é sexualização, é desmoralização, tudo para desmerecer o que fazemos. Tudo para nos negar o básico: sermos respeitadas. A gente já não tem mais medo de pedirem que mostremos os peitos, não temos medo que nos xinguem de vadias, vagabundas, burras ou qualquer outra coisa que vise desmerecer nosso trabalho, não temos medo de quem denigre nosso trabalho sem nos conhecer ou espalha falso boato, ou que deixem de acompanhar nosso trabalho porque acreditam qualquer coisa que alguém fala da gente, ou desmerece nosso trabalho por qualquer coisa do passado. A gente aprendeu, se equipou, estamos full gear e já montamos nossa raide de mulheres fantásticas que estão conquistando o que merecem cada vez mais. E a gente sabe que nosso trabalho é estupidamente bom, que somos extremamente competentes, e que ninguém tira nosso empenho em continuar crescendo sempre.

“Dane-se essa merda sexista”

Por isso, gostaria de fazer menção a todas as mulheres maravilhosas que têm trabalhado juntas pra serem extremamente fortes e competentes no que fazem: toda as meninas da Equipe WoWGirl, do Cristal de Mana, Girls of the Storm e Overwatchers, a Makotinha e demais meninas Coja Gamer, as lindas do Pac Mãe, todas as maravilhosas Garotas Geeks, a Isa do Donas de Casa que Jogam WoW, as streamers Pimenta Rosa, Starfire, Bia do Casamento Nerd, a Tia Giu, a NikasPlay, a Belzinha do WoW Discovery, a Pinky do Gameow, as meninas do PvPGirls – Nanda, Lynn. Larih, a Kpis, a Juh e tantas outras que trabalham todos os dias também com várias dificuldades, sendo sempre maravilhosas, esforçadas e cada vez melhores. Acompanhe o trabalho dessas e outras mulheres, e vejam que não estamos de falsa modéstia aqui. Lembrem delas, e nos apresentem mais mulheres maravilhosas nos comentários também! Além de mencionar, vale dizer: estamos juntas. Isso não quer dizer concordar em tudo, muito menos não ter conflitos, mas sim, que estamos aqui pra apoiar e nos defender no que for necessário. Contem com a gente.

Convido vocês a fazerem essa reflexão, tentando enxergar que temos sim muitos obstáculos que talvez você, homem, nunca passará na vida. Valorize sempre as mulheres: as que você admira e gosta, da família, amigas, profissionais de qualquer espécie, ou uma total desconhecida. Elas têm más experiências na vida vinculadas ao fato de serem mulheres que você nunca passará. Seja um jogador melhor nesse sentido também: somos a maioria nos games, mas muitas estão escondidas com receio do preconceito. Ajude-nos a superar isso durante esse ano todo! Se não souber como, pergunte pra mulheres próximas a você, elas vão te ajudar 🙂

E que em anos seguintes, cada vez mais esse post de 8 de Março venha recheado de conquistas, e não mais de demandas velhas e cansadas.

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