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Essa semana tivemos uma matéria bastante divulgada por aí de uma ~rede televisiva bem famosa e um programa de domingo a noite que é bastante assistido~ sobre jogos e alguns dos crimes que acontecem por causa deles. Muitos dos jogadores que conheço me alertaram sobre como essa matéria era tendenciosa e como muitas das informações dadas eram bastante exageradas, parecendo que aquilo era regra dentro do universo de games e dos jogadores pelo mundo todo. Vi a matéria, e achei que era o momento ideal para desconstruir algumas das pré-noções que a maioria das pessoas que não têm muito contato com video-games e jogos online têm desse mundo virtual. Vamos lá.

Para ler a matéria comentada neste post, clique aqui.

As pessoas têm mais satisfação no mundo virtual do que no mundo real

A vida nerd é tão melhor que a vida normal

Para ver a tradução dos gifs, coloque o mouse em cima deles 🙂

Quando você adquire um hobbie, ele obviamente é para que você se divirta e tenha seus momentos de lazer diários para “fugir da realidade”. Alguns usam a novela na televisão, outros ouvem música, outros lêem livros, outros jogam video-game ou jogos em geral, seja Candy Crush, seja RPG de mesa, seja algum FPS louco de matar zumbi. Nós PRECISAMOS nos desligar do mundo real às vezes, principalmente agora que vivemos numa sociedade muito mais complexa, onde a socialização é muito mais dificultada, você é induzido a consumir cada segundo da sua vida, e deve trabalhar e trabalhar até que seu corpo seja destruído pela exploração do seu emprego. Depressão é uma doença seríssima, e olha só: acontece muito mais nas cidades mais populosas, porque quanto mais gente a sua volta, mais sozinho você está hoje em dia. Então se você se sente bem assistindo uma novela com personagens inventados e uma história fictícia na televisão, ou uma música sobre uma pessoa fictícia falando sobre seus sentimentos fictícios, ou ler sobre uma aventura que nunca existiu com uma pessoa que também nunca vai existir, ou se você quer criar um personagem fictício e ir matar kobolds que nunca vão existir, a decisão é sua! Fuja da realidade como você quiser. A gente vive em um mundo cheio de realidades virtuais, de pessoas felizes comendo hambúrgueres que não são assim tão gostosos como parecem ser, de cantores falando de amor e agindo como idiotas com seus fãs, de livros de auto-ajuda famosos de escritores que vivem a base de Rivotril, então acredito mesmo que ir matar kobolds pra ser feliz é o menor dos seus problemas.

Ser viciado no seu hobbie

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Jogos viciam? Claro. Bebidas alcoólicas, drogas (cigarro incluso) e medicamentos também. E sabe o que mais vicia? Comer unha, assistir séries, ver jogo de futebol, comprar coisas, arrancar fios de cabelo, comer x-burguer, fazer tatuagem, usar o Facebook, mexer no smartphone, tomar whey, coçar o saco, fazer sexo, ganhar dinheiro, tomar coca-cola, trabalhar, etc. Já viu aquele seu parente que trabalhou a vida toda, e quando aposenta não consegue ficar parado em casa? Ele é viciado, só que só se dá conta quando aquilo é tirado dele, e bem, você não vê nenhum veículo de comunicação falando mal da jornada de trabalho que somos submetidos né? Nem matérias falando de pessoas viciadas em coca-cola, e ninguém critica os torcedores fanáticos que vão e viajam para todos os jogos dos times.

O vício ocorre em qualquer lugar. Com certeza deve ter muito jogador viciado por aí, porque a maioria dos jogos vêm da brincadeira com a sorte, e brincar com sorte sempre dá aquela vontade de continuar tentando. Tem gente viciado em jogos “de azar”, e tem gente viciado em farmar o Invencible toda semana. E tem sim as pessoas que se viciam das formas mais sérias, como alguns dos que foram mencionados na reportagem. Se você perceber que você ou um amigo está diminuindo seu desempenho na escola ou no trabalho por causa dos jogos, ficando mais cansado, deixando de fazer tarefas diárias importantes por causa do jogo, reveja tudo isso ou converse com a pessoa. Se o jogo deixa de ser algo divertido e passa a ser uma obsessão, procure ajuda de familiares, amigos ou até mesmo profissionais, porque é aí que as coisas começam a ficar erradas. Há jogos que te deixam viciado mais rápido, outros que nem tanto, mas o vício nem sempre é o problema. Tem fumante que fuma um maço de cigarro por dia, tem fumante que fuma um por semana. Ambos são viciados, mas há uma diferença aí. Claro que você pode começar também jogando horas e horas, e depois de um tempo passar a jogar bem menos, até porque a vida acontece e novos hobbies surgem, e vice-versa. Critico somente a forma com que o vício foi falado na reportagem: viciar-se acontece, agora parar de fazer suas obrigações todas e dedicar-se somente ao jogo é o real problema. Felizmente casos como esse são as exceções, e não a regra.

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E mais: foi explorado o porquê do jogo virar vício? Foi visto se a vida familiar, amorosa, social, o trabalho ou qualquer categoria da vida dos entrevistados estava legal pra que elas se agarrassem aos jogos virtuais e se perdessem nesse mundo? Uma das entrevistadas disse que tinha acabado de passar numa universidade, e sobre isso gostaria de falar um pouco da minha vida pessoal: eu comecei a jogar WoW quando estava nos últimos meses de cursinho. Nessa época, eu estava tão surtada que meus pais me enfiaram em psicólogo, me fizeram tomar floral, eu dormia 5 horas por noite e estava super estressada. Foi ganhar o computador novo, instalar joguinhos e começar a jogar que isso foi passando e eu fui voltando ao normal. E quando finalmente passei na faculdade, decidi parar de jogar de novo. O que aconteceu foi que eu, morando sozinha numa cidade há 2h de distância dos meus pais, sem nenhum amigo por perto, comecei a surtar de novo, e novamente o WoW me salvou disso. Então nem sempre os jogos destroem vidas, às vezes eles podem oferecer várias vidas novas ou salvar aquele restinho de vontade de viver que resta em você. 🙂

Na reportagem também mostra um empresário que gasta rios de dinheiro em jogos. Sinceramente: o dinheiro é dele. Se ele tem 500 mil pra gastar no jogo e isso não vai afetar em nada a vida dele nem de ninguém que use dos mesmos recursos financeiros, be my guest. O problema real aí é só se ele gastar dinheiro que ele não tem, o que aparentemente não é o caso dele. E bem, as pessoas gastam dinheiro com cigarro, fast food, baladas, bebida, prostituição… e eu só quero pagar meus 18 reais mensais, poxa. Eu se tivesse dinheiro sobrando já tinha gastado pra comprar mascote e montaria da loja do site >.>

Crimes em jogos

Perigo? Eu ando no mundo selvagem. Eu rio na cara do perigo, ha ha ha!

Aqui eu dou um ponto positivo para a matéria, apesar de discordar do foco que isso foi dado nas entrevistas e na descrição dos tipos de crime que acontecem. São mencionados casos de cartões clonados, pornografia e pedofilia, apesar de possuírem muito mais. Roubo de contas, itens e personagens é um crime virtual, só não é passível de punição por lei, mas no fim é roubo. Existe racismo, machismo, homofobia (que ainda não é crime, mas deveria ser), existe preconceito social, etc. Apesar disso, vamos avaliar o que foi realmente tratado pelo entrevistador:

Cartões clonados

Cartão clonado é o crime mais comum de se ter na internet, e fora dela. Qualquer busca no Google te ensina a fazer compras online com um cartão falso, mas o real problema é: isso é fiscalizado? Isso é punido quando é online? As pessoas denunciam? Os jogos têm maneiras de identificar a veracidade das informações dadas pelo jogador? As empresas dos jogos sabem de transações não autorizadas feitas através de cartões clonados pelos seus moderadores? E quem é o verdadeiro culpado, o jogador que quer fazer as transações de maneira ilegal, o funcionário do jogo que abre oportunidade para isso, ou a empresa que finge que não sabe? A Blizzard por exemplo bloqueia contas que fizeram transações muito altas em gold dentro do jogo até que ela possa averiguar como o jogador conseguiu um montante de gold tão alto. Venda de gold por exemplo é proibida, e mesmo assim tem jogadores que fazem, e se a Blizzard descobre, comprador e vendedor são punidos com ban eterno.

Pedofilia

Esse é um assunto super delicado, porque tem tantos problemas envoltos nisso que não sei nem por onde começar. Primeiramente, temos o problema da faixa de idade dos jogos. A maioria dos jogos proíbe menores de X anos de jogar sem autorização dos pais, e no entanto poucos pais olham a faixa de idade dos jogos que seus filhos estão jogando. Poucos pais OLHAM o conteúdo do jogo que seu filho está vendo, já que se o pirralho tá quieto no quarto vendo o computador e não tá enchendo o saco pra sair e brincar lá fora, tá mais que ótimo. Poucas crianças não mentem sobre suas idades na internet, porque sabem que não terão acesso ao jogo se tiverem menos da idade exigida. E bem, pra mentir a idade num jogo online não é preciso nem documento falso.

Passado esse primeiro problema, vem o segundo caso: pedofilia. Se a menina de 12 anos vê propagandas de mulher seminua para perfumes, carros, comida, bebida, e quase tudo o que é consumível hoje em dia, que mal faz tirar uma foto de biquíni e mandar pra pessoa que vai te dar gold no jogo, ou te ajudar em determinada situação? E no caso contrário, pro homem é muito fácil dizer “manda nudes” oferecendo coisas em troca, sabendo ou não a idade da outra pessoa. Num mundo onde poucas informações reais são passadas, esse crime passa quase despercebido. Eu mesma já joguei com várias crianças, e já vi várias situações: desde os pais que estão pouco preocupados com o que o filho fala, joga, assiste e vê na internet, até pais que vieram conversar comigo e me conhecer antes de deixar o filho me adicionar no Real ID. Os jogos da Blizzard possuem idade mínima de jogo na maioria deles e Controle de Pais para que os pais de menores de idade controlem tempo de jogo, chat, e tenham report semanal das atividades do filho nos jogos. Quantos jogos também possuem políticas desse tipo? Quantos pais se preocupam que seus filhos joguem jogos com conteúdo adequado para a idade de seus filhos e fiscalizam suas atividades? Quantos pais se preocupam em discutir pornografia, sexualidade e limites com seus filhos para evitar esse tipo de crime?

Pornografia

Ao contrário do que uma das entrevistadas disse sobre o tema, pornografia não é só coisa de homem. O mercado de pornografia atende todos os sexos, gêneros e opções sexuais. Se você é maior de idade e quer mostrar partes do seu corpo para ganhar gold, fique à vontade. Quer se prostituir para ganhar vantagens no jogo, ou mandar fotos suas, ter encontros, fazer videos eróticos, etc, problema seu. Opinião minha: pornografia é tudo o que envolve consumo de sexo, então ver vídeos em sites especializados no conteúdo ou pedir pra alguém no jogo te enviar nudes é a mesma coisa, e se você quer entrar nessa para ganhar vantagens, a escolha é sua, só que fique entendido que as consequências disso são suas e o modo como você vai lidar com isso também. Tem gente que usa seu corpo para obter vantagens e se arrepende depois, tem gente que usa e não tá nem aí para o que disserem a respeito. Sendo maior de idade, dono do seu próprio corpo e ciente das consequências disso cair numa Internet com uma comunidade doente, a pornografia pode ser feita por qualquer um. Sabe aquilo de cada um cuida da sua vida? Então. Se o mocinho ou mocinha quiser se mostrar pra conseguir gold, o que você tem a ver com isso? Nada. Falta educação para fazer as pessoas entenderem que o corpo alheio deve ser respeitado, que a pornografia é normal porque as pessoas a consomem (e diria até que é saudável consumi-la), e que a gente não tem nada a ver com o corpo dos outros, ok? Vamos entender que esse tipo de coisa não deve ser julgada, e que cada um cuide da sua vida sem encher o saco dos outros por o que eles fazem ou deixam de fazer.

E por fim…

É preciso entender que o universo dos games é um lugar mágico, mas nem tudo são flores. Existem e sempre existirão pessoas que acabam se deixando levar demais ou depositam no jogo mais do que a vontade de se divertir. Principalmente quando todo o resto está desandando, achar uma realidade alternativa pode ser sim muito atraente, e ser reconhecido nela pode despertar essa ânsia de querer mais e mais, o que leva sim aos problemas relatados na matéria. Mas de novo: são exceções, e não a regra. O que então podemos dizer dos universo dos jogos, com toda a certeza?

  • Que atualmente representa um dos mercados de maior crescimento no Brasil e no mundo, contrariando a crise econômica atual, oferecendo empregos, novas tecnologias e entretenimento inteligente.
  • Está abrindo um novo tipo de competição: os eSports. Com jogadores bem capacitados em múltiplas ações ao mesmo tempo, é um ramo que tem atraído pessoas e bastante investimento, fazendo com que profissionais em jogos online sejam reconhecidos pelo mundo afora.
  • Há inúmeras pesquisas em cima de jogos, principalmente na tecnicidade e no treinamento de profissionais. O FBI já utiliza jogos para treinar seus profissionais, e médicos cirurgiões têm recorrido a jogos que exigem capacidade motora (como consoles) para melhorar sua habilidade em cirurgias mais delicadas.
  • Acredita que os jogadores podem salvar o mundo? A pesquisadora Jane McGonigal estuda que os jogos têm capacitado as pessoas a lidar melhor com recursos, e por isso são especializados (literalmente!) a salvar o mundo real. Você pode ler mais sobre isso clicando aqui.
  • Hoje os jogos podem ser utilizados como treinamento e forma de aprendizagem em vários ramos. Na educação infantil principalmente, há professores que utilizam jogos para ensinar língua portuguesa, história, matemática, ciência, biologia, etc. Quem nunca aprendeu nada na escola jogando alguma coisa temática nas aulas de informática, ou já ouviu falar de pessoas que aprenderam matérias escolares assim? Eu sou um exemplo vivo disso. 🙂

E claro, todo mundo tem um exemplo pessoal disso. Jogar me proporcionou habilidades de liderança, de explicação e entendimento de regras, de falar em público, de lidar com dificuldades, de solucionar problemas. Me ajudou a escrever melhor, falar melhor, a ler mais e procurar mais informações por aí, a ter mais paciência e ser mais persistente, e me proporcionou amigos inseparáveis (mesmo que a quilômetros de distância) e horas infinitas de divertimento. Claro que já dormi pouco, deixei de comer direito, me prejudiquei algumas vezes porque preferi jogar a fazer alguma coisa mais importante, mas isso foram pouquíssimas ocasiões, e sempre valeu muito a pena. Então porque sempre falar dos jogos como algo negativo, e falar na maioria das vezes de casos onde as coisas não foram bem? Vamos mudar um pouco dessa realidade? É sempre bom discutir como os jogos modificam as nossas vidas, apresentando os lados bons e ruins. Mas se não houvessem muito mais lados bons, dificilmente existiriam tantos gamers por aí, não é?

Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades

Desculpem o texto longo dessa vez, mas espero que tenha passado um pouco do que eu penso sobre o assunto. Espero mesmo não ter que vir aqui discutir os mesmos pontos novamente, e aguardo os comentários de vocês para discutir mais o assunto 🙂

Muito obrigada mesmo, e até mais! o/