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Este é o 35º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Aquelas idas e vindas, definitivamente, não lhe estavam fazendo bem. Dareon sentia-se tão cansado que até o balanço da cavalgada lhe dava sono. Encarava com pesar a já conhecida estrada para Tempestária, sentindo a chuva fria lhe encharcar os pelos e a roupa enquanto seu velho amigo cavalo trotava aos deslizes na pedra escorregadia. Só pensava que, agora que saíra do conforto Tal’doren, mal sabia quando teria uma noite de sono novamente.

Durante a viagem, a preocupação com os refugiados do Refúgio do Ocaso tornava-se uma angústia crescente. Só pensava em como Lorna e Gwen fariam para atravessar aquela floresta medonha sem o auxílio de Greymane e Krennan (e mesmo Lorde Godfrey, de quem não tinha notícias já havia algum tempo). Agora, só o que podia fazer era torcer para que Lorde Crowley fosse rápido o suficiente para organizar um pequeno exército de reforço e os posicionasse pela Floresta Negra em tempo hábil – e para que Lorna mantivesse aquela carabina sempre muito bem carregada. Eu devia ter ensinado Gwen a brandir aquela espada antes de partir…

Já anoitecia quando conseguiu enxergar a ponte que levava à entrada de Tempestária, mas a chuva e a fraca iluminação fornecida pelos lampiões quase apagados o impediam de notar qualquer detalhe. Durante todo o caminho, esperava ver Krennan Aranas à sua espera com uma pequena comitiva de proteção, talvez uma carruagem para levá-los ao Rei em segurança. Porém, quanto mais se aproximava, mais certeza tinha de não havia ninguém à sua espera.

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A desconfiança se confirmou quando Dareon finalmente parou no início da ponte, tão sozinho quanto estava quando partira. Desceu do cavalo, pensando que poderia existir uma pequena chance de Krennan ter se atrasado, e apoiou-se na cerca próxima à uma casinha de observação no canto da estrada, onde ao menos poderia aproveitar um pouco de luz e tinha perfeita visualização da ponte.

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Um barulho repentino chamou sua atenção. Alarmado, Dareon despertou do torpor que havia tomado conta de si e aguçou a audição, aguardando quase sem respirar. Passaram-se alguns instantes de silêncio e então o ruído aconteceu novamente, ao que Dareon imediatamente grudou o ouvido à parede da casinha. Não precisou de muito esforço para ouvi-lo mais uma vez, um som abafado, lamentoso, seguido de… soluços.

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Depois de passar por alguns segundos de uma luta interior sobre o que deveria fazer, Dareon finalmente se aproximou da portinha de entrada e tentou empurrá-la sem êxito. Estava definitivamente emperrada por alguma força interna, algo que barrava sua abertura forçosamente.

– Tem alguém aí? – finalmente decidiu chamar.

Só o que ouviu foi sua própria respiração acelerada e a chuva batendo no pequeno telhado.

– Olá? – tentou novamente. – Quem está aí?

Mais uma vez, não obteve qualquer resposta. Então uma ideia mirabolante surgiu em sua mente e ele resolveu usar sua última cartada.

– Pode sair – sussurrou calmamente. – Sou eu, Dareon.

A porta escancarou-se imediatamente e lá de dentro saiu um Krennan Aranas tão fragilizado e abatido que Dareon quase não o reconheceu.

– Dareon! – Aranas suspirou aliviado e, em meio a outro soluço, agachou-se no chão molhado, as duas mãos sobre o rosto.

– Krennan, o que há de errado? – perguntou Dareon, sem saber como reagir. – O que é que está…

– Genn! – Aranas gritou de repente, interrompendo-o.

Dareon agachou-se também e o fez tirar as mãos do rosto. Olhando-o de perto, percebeu ainda mais como estava amedrontado e desesperado.

– O que tem o Genn?

– Eles pegaram o Genn… – murmurou Krennan. – Eles pegaram… O nosso Rei!

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Dareon estava tão desesperado quanto Krennan, mas pediu que se acalmasse e lhe contasse o que havia acontecido.

– Porque estava escondido?

O alquimista levantou-se, ajeitando o capuz na cabeça.

– Tive medo de que eles viessem atrás de mim também – respondeu num resmungo. – Precisava encontrá-lo, se não entraríamos todos numa enrascada… Tenho esperanças de que você poderá nos ajudar. Eles devem estar atrás de mim…

Dareon estava cada vez mais confuso.

– Quem pegou o Rei e está atrás de você? – perguntou finalmente.

Krennan deu uma risada rouca e triste antes de responder.

– Lorde Godfrey – disse por fim, a voz demonstrando o desgosto que sentia. – Sujeitinho… Ele conseguiu convencer dois lordes do leste a participar do plano.  Prendeu o Rei Greymane em Tempestária.

– Mas… – Dareon sentia-se atordoado. – Para quê?

– O idiota acha que conseguirá fazer algum acordo com os renegados se entregar Greymane.

Quanto mais Krennan revelava, mais Dareon se assustava. Não entendia como aquilo podia ter acontecido. Lorde Godfrey… Ele conhecera Lorde Godfrey, lutara com Lorde Godfrey. Haviam feito planos, matado inimigos, salvado seu povo… E agora Dareon sentia tanto o peso da captura quanto o próprio Rei deveria estar sentindo.

– Maldito traidor – murmurou. – O que faremos?

– Posso desviar a atenção deles – disse Krennan após alguns instantes de reflexão. – Ele me jogou para fora da carruagem em que estava Genn e o levou como prisioneiro, mas do jeito que o conheço, ele certamente já deve ter mandado alguém me calar – revirou os olhos. – Sempre esquece de alguma parte importante do plano, o imbecil. De qualquer forma, me escondi apenas para garantir que o encontraria. Desculpe por fazê-lo esperar e… Por isso… – apontou para si mesmo. – Estou com os nervos à flor da pele. O que eles não sabem é que havíamos combinado de você aparecer por aqui antes. Devem pensar que todos chegarão amanhã.

– Certo – Dareon assentiu. – É uma vantagem. Mas ela não servirá completamente… Não sei como posso entrar sem ser notado, eles…

Aranas deu seu primeiro sorriso real desde que haviam se encontrado.

– Esqueceu com quem está falando? – perguntou sarcasticamente, tirando de um bolso interno um pequeno frasco de vidro transparente cheio de líquido esbranquiçado. – Essa poção permitirá que você se infiltre entre eles sem ser percebido.

Dareon estendeu a pata e aceitou o vidro que Krennan lhe entregava.

– Me escute – pediu Aranas. – Precisamos resolver isso silenciosamente e com pouco derramamento de sangue. Só não faço isso eu mesmo porque não tenho esse tipo de habilidade, você sabe…

– O que tem em mente?

– Mate os dois lordes traidores antes que isso tudo saia de controle. Se chamam Ashbury e Walden, certamente estão vagando por Tempestária junto com aquele desgraçado – concluiu Aranas, ao que Dareon abriu o frasco e engoliu de uma vez só todo o seu conteúdo. Krennan estendeu a mão e deu mais um sorriso simpático. – Boa sorte, amigo. Contamos com você.

Todos contam.