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Este é o 29º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Certo, Dareon pensou, tentando aproveitar o tempo em que colhia as folhas-da-lua para organizar as ideias. Um artefato que pode disseminar a maldição por todo lado. Achava preocupante demais. É bom que o quer que eles estejam planejando dê muito certo, concluiu, porque só imaginar mais gente passando por todo o sofrimento que ele havia passado lhe causava uma sensação de desespero tão grande que quase doía fisicamente.

Era muita coisa para se preocupar ao mesmo tempo. Às vezes, Dareon chegava até a esquecer que agora não era mais humano. Pensava que aquilo tudo lhe fazia mal, que podia simplesmente ir embora, deixar tudo para trás e encontrar outro vilarejo tranquilo no qual pudesse se acomodar em uma pequena estalagem; talvez acordar com o canto dos pássaros novamente e passar o dia à beira de um lago de águas calmas, encarando o céu enquanto a brisa de verão varria para longe qualquer problema que lhe anuviasse os pensamentos.

Então a realidade lhe oferecia um tapa no focinho e o obrigava a se lembrar de seus pelos, de sua altura e de suas garras. Se lembrava também de que não escutava o canto de um passarinho havia muito tempo – o que havia em Guilnéas, afinal de contas? Só corvos e mais corvos, negros e agourentos como a noite –, e de que lagos eram coisas raras por ali. E se pedisse por uma brisa, então? Ganhava uma rajada de vento gelado acompanhada das gotas daquela chuva sem fim.

Ainda assim, ali estava, se agachando para colher os pequenos ramos de folhas que deviam ajudar de alguma forma no ritual misterioso da elfa-noturna. Talvez eu deva parar de me preocupar, pensou. Aquela era sua vida agora.

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– Ei, Dareon, tudo certo aí? – chamou uma voz, que Dareon logo constatou pertencer a um worgen parado junto à entrada.

– Tudo – gritou em resposta, então correu para dentro de Tal’doren chacoalhando os galhos de folhas-da-lua que segurava com as duas patas. – Só estava… colhendo isso aqui.

Assim que entrou, recebeu um sorriso acolhedor de Vassandra, a elfa-noturna que lhe pedira as folhas.

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– Oh, você já voltou… – disse ela, animada. Estendeu os braços para segurar todas as folhas que Dareon havia colhido e as pousou com carinho dentro de uma bacia branca no chão. – Essas folhas singelas crescem sob a graça de Eluna. Elas permitirão que sua mente compreenda a necessidade de equilíbrio e que sua alma detenha domínio eterno sobre a fera.

Ah, Dareon lembrou-se. Era disso que Belrysa falava

Um alvoroço repentino o fez virar-se novamente na direção da entrada. Todos os worgens se afastavam desordenadamente para abrir caminho para Tobias Brumanto, que corria, afoito, rumo a Lorde Crowley.

– Darius! – gritava ele. – As patrulheiras sombrias estão com a foice!

Lorde Darius Crowley, o grande, magnífico e inabalável Lorde Darius Crowley, ficou sem reação por um momento. O silêncio que se seguiu era entrecortado apenas pela respiração pesada de Brumanto, que se esforçava para prosseguir com a explicação.

– Como? – perguntou Crowley.

– Elas a pegaram antes que pudéssemos alcançá-las… Nós…

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Lorde Crowley rosnou rapidamente.

– Coloque todos os nossos homens em posição imediatamente, Tobias! – ordenou em seguida. – Não podemos deixar a foice nas mãos dos Renegados!

Tobias Brumanto assentiu, nervoso, e saiu correndo tão rápido quanto havia chegado. Lorde Crowley girou a espada e levou uma das patas à testa, esperando secar um suor que não corria.

Dareon estava impaciente demais para ser reservado.

– Essa foice… É… O artefato?

Crowley assentiu, pesaroso.

– Desde que os Renegados invadiram Guilnéas, estamos tentando manter em segredo o local que guarda a foice de Eluna – disse baixinho. – Muitas vezes levamos a foice para lugares mais seguros, na calada da noite. As patrulheiras sombrias até chegaram perto, mas nunca haviam encontrado o artefato… Até agora.

É obvio que um dia essa correria iria dar errado, Dareon pensou, frustrado.

– Da última vez que foram vistas, elas estavam na cabana de Findamata – Crowley comentou. – Mas a cabana fica à oeste, e parece que Tobias seguiu para o norte…

– Talvez seja algum plano – Dareon disse.

– Talvez não.

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A hostilidade no tom de voz de Lorde Crowley deixava clara sua preocupação. Ele até tentava, mas era praticamente impossível não demonstrar a aversão que sentia pelos Renegados e como estava furioso por ter perdido a foice de Eluna para Sylvana.

Então Dareon – sabendo que se arrependeria da sugestão um instante depois que a externasse – fez o que sempre fazia nessas situações:

– Eu… Eu sou um bom batedor – disse, primeiro aos gaguejos e depois encontrando a firmeza de que necessitava para convencer Lorde Crowley. – Se… Se for possível, gostaria de ajudar nessa busca.