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Este é o 20º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

O Príncipe Liam Greymane soltou as malas que carregava e parou ao lado da diligência caída, massageando a testa lentamente.

– Os ogros atacaram duas diligências, esta aqui e a que caiu no pântano – explicou ele para uma versão visivelmente impaciente de Dareon. – Foi muito sério.

– Há feridos? – quis saber Dareon. – Para onde foram esse ogros? Quero dizer, de onde é que eles vieram, para começar?

Liam chacoalhou a cabeça, esgotado. Aparentemente, estava tão confuso quanto Dareon a respeito dos ogros.

– É o que eu quero descobrir. Só estava esperando por ajuda – respondeu o Príncipe, então apontou para trás com o queixo. – Que ótimo, pelo menos os feridos deste acidente já podem ir embora na sua diligência…

Dareon virou-se para onde ele apontava e viu alguns aldeões sendo ajudados por Lorna e Krennan a entrarem dentro da cabine. Todos se esforçavam para abrir mais espaço para os feridos, que tentavam se acomodar onde coubessem.

– Mas ainda há os sobreviventes do pântano – prosseguiu Liam. – Há mais diligências a caminho?

– Uma ou duas, talvez. Deixamos alguns vigias cuidando do resto dos aldeões, não eram muitos…

– Então as diligências virão lotadas, provavelmente… – Liam suspirou, sem saber o que fazer.

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– Eu posso ir até o pântano e resgatar os sobreviventes – Dareon deu de ombros. – Pelo menos enquanto esperamos, é preferível que fiquem a salvo aqui, não no pântano…

O Príncipe abriu um meio sorriso agradecido.

– Qualquer ajuda é bem-vinda – disse ele.

O barulho de passos rápidos vindos de trás chamou-lhes a atenção, e os dois se viraram para ver Gwen Armstead correndo em sua direção, afobada.

– Ela vai querer ficar para ajudar – Liam sussurrou sutilmente.

– É claro que vai – Dareon concordou no mesmo tom.

A Srta. Armstead levou alguns segundos para recuperar o fôlego antes de equilibrar o chapéu no topo da cabeça e recuperar a postura.

– Os aldeões nos contaram o que aconteceu – disse ela. – Estão muito feridos. Vou mandar que os levem embora imediatamente, enquanto eu fico aqui para ajudar…

Liam deu uma risadinha contida e balançou a cabeça.

– Gwen, não entenda isto de forma errada, por favor – começou ele. – Não é que eu não aprecie sua companhia, mas você não pode ficar aqui. Há ogros à solta pela região, e a última coisa que precisamos é de mais um ferido.

– Não vou ser atacada, eu sei me defender! – protestou a moça, ofendida.

– Isto não está aberto à discussão, Gwen – Liam disse em tom mais enérgico. – É para o seu bem.

Lorna Crowley apareceu ao lado de Gwen e deu um tapinha na carabina que trazia pendurada à cintura.

– O que estamos esperando para caçar esses ogros nojentos? – quis saber ela. – Vamos logo!

– Vocês duas estão entendendo tudo errado – comentou Dareon.

– Lorna, você precisa estar naquela diligência para protegê-los durante a viagem – disse Liam. – Dareon e eu daremos um jeito por aqui.

Gwen e Lorna começaram a protestar ao mesmo tempo, ao que Liam revirou os olhos, impaciente:

– Aquela diligência não irá partir sem vocês – disse ele, ignorando todos os argumentos. – Não façam os feridos esperarem demais.

Gwen Armstead tentou continuar a conversa, mas Liam deu-lhe as costas.

– Gwen – murmurou ele, sem olhá-la. – Minha função é proteger meu povo e as pessoas que eu amo, e você é uma… p-parte do meu povo. É. Quero mantê-la em segurança.

Dareon tentou fingir que não estava ouvindo e apoiou-se na diligência casualmente, olhando para cima, mesmo que Liam e a Srta. Armstead não prestassem atenção nele.

Gwen encarava o chão, cabisbaixa.

– Só… Tome cuidado – ela sussurrou baixinho para Liam, então passou a mão em seu ombro como despedida e correu novamente em direção à diligência, arrastando consigo uma Lorna carrancuda, que largou xingamentos ao vento até que a diligência lotada desapareceu na estrada tortuosa.

– Pronto – murmurou Dareon, enquanto Liam, ainda de costas, massageava a têmpora com força. – Vou até o pântano ver o que aconteceu por lá. E você… vê se pensa em algum plano. Os ogros irão onde nós estivermos.

Liam assentiu com a cabeça sem se virar. Dareon deu de ombros e saiu da estrada para se embrenhar no enorme campo aberto que ia terminar no pântano, à beira dos rochedos sobre os quais fora construído o Solar dos Greymane.

Sob a chuva, o pântano ficava de fato insuportável. A escuridão que normalmente abatia aquela região parecia ficar ainda mais sombria, as sombras das árvores caindo sobre o terreno irregular e escorregadio. Como se não bastasse a hostilidade inerente ao ambiente, havia cabeças e caudas de crocodilos aparecendo por toda parte, o resto de seus corpos brilhantes camuflado nas poças rasas que se formavam onde o terreno era mais baixo.

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E essa nem é a pior parte, pensou Dareon ao desviar de um crocodilo adormecido, em direção à cabine da diligência acidentada. Os sons característicos de luta alcançavam seus ouvidos enquanto se aproximava, e logo conseguiu enxergar as silhuetas de uma moça que usava uma enxada para tentar manter longe o crocodilo que a atacava.

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– WORGEN! – gritou a moça assim que o enxergou caminhando em sua direção. – SOCORR…

– Fique quieta, mulher! – Dareon sussurrou. – Quer chamar mais alguns crocodilos para brigar? Estou aqui para ajudar.

Dareon deu a volta no crocodilo e puxou-o pela cauda. O bicho parou de prestar atenção na mulher e virou-se violentamente para atacá-lo. Dareon rodeou-o até deixá-lo confuso e então ergueu-o nos braços para atirá-lo alguns metros à frente.

– Você é forte – comentou a moça, apoiada no cabo da enxada. – Desculpe pela grosseria.

Eu sou realmente forte, não sou?

Dareon sorriu internamente e deu de ombros, indiferente.

– Acontece sempre – resmungou.

– Então, é ótimo que alguém tenha finalmente aparecido! Podemos sair daqui?

– Onde estão os outros? – Dareon quis saber, impaciente.

A moça apontou na direção de um rochedo afastado.

– Ali atrás – disse ela. – Alguns estão muito machucados. Eu caminhava na direção da estrada, procurando alguma ajuda, mas não consegui chegar nem na metade do caminho e um bicho já me atacou.

– Então vamos levá-los daqui de uma vez.

Dareon acompanhou a aldeã até o esconderijo improvisado e – depois de ouvir mais alguns “WORGEN!” seguidos por pedidos de socorro – ajudou a erguer os aldeões mais feridos. Atravessou todo o pântano levando no colo duas senhoras com dificuldades, uma delas com a perna aparentemente quebrada, enquanto a moça que conhecera momentos antes guiava os que estavam em condições de andar pelos caminhos mais seguros.

Quando por fim alcançaram a estrada, Liam tinha duas diligências preparadas e cinco vigias de prontidão para auxiliar na acomodação dos feridos assim que aparecessem.

– Ficaram atolados no pântano , pobrezinhos– Dareon explicou, observando os aldeões entrarem nas cabines. – Nem conseguiram chegar até a estrada para pedir ajuda. E você não me avisou sobre os crocodilos.

Liam riu.

– É um pântano! – retrucou. – De qualquer forma, não me parece que lhe causaram problemas.

– Não a mim – Dareon bufou. – Olhe o tamanho das minhas garras! Se você fosse um crocodilo, também não chegaria perto. Mas esse pessoal estava em apuros por lá.

Os dois acenaram quando as duas diligências passaram por eles e seguiu a estrada, levando todos os aldeões para longe dos ataques.

– Pronto – Liam arrumou a postura de repente e endureceu a voz. – Acho que agora não corremos o risco de colocar alguém em perigo. Já podemos acabar com os ogros de uma vez.

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Dareon o encarou, sério.

– Quer dizer que você tem um plano? – perguntou.

Liam abriu um meio sorriso e o encarou de volta.

– Ah – ele chacoalhou a cabeça energicamente. – Se tenho.