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Este é o 18º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Dareon não conseguia tirar os olhos daquela cena devastadora, que parecia cada vez mais surreal a cada segundo passado. Através da lente do telescópio, podia enxergar toda a área em que antes se erguia o pequeno vilarejo do Refúgio do Ocaso, agora todo coberto pela água, que chegara àquele nível após o último terremoto.

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Gwen, lembrou-se de repente, sentindo um aperto no peito. Também Krennan estava lá… Girou o telescópio ao acaso, procurando os outros pontos de destruição em meio àquela quantidade incrível de água. Notou troncos de árvores arrancadas pelas raízes, boiando a esmo junto aos destroços do vilarejo, sob a chuva incessante que colaborava com a desolação do cenário.

A lente do telescópio passou rapidamente por uma figura diferente, e Dareon apressou-se para focá-la novamente. Demorou alguns segundos até que finalmente encontrou o que procurava, e o que antes era curiosidade imediatamente transformou-se em espanto:

– Renegados! – gritou, afastando-se inconscientemente do telescópio, como se os mortos-vivos pudessem sair de repente dali e atacá-los. – Muitos deles. Uma frota de navios está se aproximando, acabei de ver!

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O Rei o encarou por um momento, absorvendo as palavras, então cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça.

– Era tudo o que não precisávamos – murmurou sombriamente.

Genn Greymane debruçou-se sobre a amurada da torre e olhou para baixo. Dareon o imitou e imediatamente detectou os degraus quebrados nas escadas de madeira que subiam em espiral até o Observatório.

– Precisamos sair daqui – Dareon falou. Quando se afastou, o chão rangeu sob o seu peso. – Agora.

O Rei sabia que precisavam. Suspirou tristemente e concordou com a cabeça, vencido.

– Parece que a natureza também quer me convencer a deixar este lugar – disse. – Não temos muita escolha além dessa, temos?

– Até o momento, nenhuma.

– Então… que seja – Greymane juntou sua espada do chão, mas não a embainhou. Caminhou até o telescópio e deu mais uma espiada na frota de navios que se aproximava, então pareceu tomar uma decisão e sua expressão repentinamente tornou-se obstinada. – É isso. Vamos partir para o interior. Não estou nem um pouco satisfeito com isso, mas se ficarmos aqui, estaremos vulneráveis demais. E, como se não bastasse a quantidade de visitantes que estamos prestes a receber, este lugar está caindo! Como é que vamos lidar com tanta coisa ao mesmo tempo?

– Podemos começar levando todos para o leste em diligências – sugeriu Dareon. – Eu vi algumas lá embaixo, e, pelo que parecia, haviam outras chegando.

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O Rei coçou o queixo, pensativo.

– Acho que pode dar certo – murmurou. – Só espero que não seja tarde demais…

– Então vamos sair daqui de uma vez – Dareon correu para as escadas, mas o Rei ficou para trás.

– Vá você na frente – disse ele. – Precisamos fazer isso rápido, e eu suponho que você seja mais veloz.

Dareon começou a protestar, mas Greymane o interrompeu na hora:

– Vá de uma vez! Não me faça ir até aí te empurrar!

Um tanto relutante, Dareon obedeceu à ordem do Rei e desceu as escadas da torre sozinho, saltando dois degraus de cada vez, evitando as enormes falhas abertas no caminho depois do terremoto.

A confusão que presenciara minutos antes no saguão do Solar dos Greymane não chegava perto do caos que se instaurara depois. A Rainha Mia, desesperada em meio aos cidadãos enlouquecidos, fez uma expressão de verdadeiro alívio quando o enxergou ao pé das escadas, preparando-se para enfrentar tamanha desordem.

Os últimos aldeões, eles chegaram a tempo? Estão todos a salvo?, Dareon quis perguntar, mas a voz não saiu. Devem ter chegado, pensou. Preferia pensar dessa forma, e achou melhor desistir de perguntar. Não tinha certeza se realmente gostaria de saber a resposta.

– Oh, até que enfim! – disse a Rainha Greymane, puxando-o pelo braço. – Não sei mais o que fazer!

– Vamos partir para o leste – Dareon informou. – Podemos utilizar as diligências para acomodar todos. Acho que deixar alguns guardas por aqui para receber os atrasados será útil também.

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– Foi Genn quem ordenou isso? Ele está vindo?

– Está.

A Rainha levou a mão ao peito, sorrindo.

– Obrigada, querido! Você foi realmente de muita ajuda para nós. Vá na frente e ajude a preparar as diligências, sim? Eu e Tess organizaremos os aldeões e os enviaremos aos poucos para a estrada.

Dareon fez uma vênia respeitosa e se afastou vagarosamente, a boca trincada de preocupação. Gwen chegou? Está tudo bem? A pergunta não saía. Quando chegou à porta do saguão, olhou para trás e acenou brevemente. Tess Greymane despediu-se com o mesmo gesto, envergonhada, e Dareon conseguiu abrir um sorriso simpático.

– Nos vemos mais tarde, Senhora! – disse alto o suficiente para que ela o escutasse, então virou-se novamente e abriu caminho pela parede de aldeões que se formara nas escadas da entrada.

Deixou-se demorar algum tempo, olhando rosto por rosto, procurando em meio à multidão o sorriso alegre de Gwen Armstead ou o capuz que usualmente cobria a cabeça de Krennan Aranas, mas não achou nenhum dos dois. Procurou também pelos guardas que haviam ficado no Refúgio do Ocaso para ajudar na evacuação, mas também não estavam lá. Decidiu, por fim, deixar o Solar dos Greymane, antes que a Rainha viesse lhe perguntar se havia algo errado.

Olhou para trás uma última vez e desceu os degraus de pedra, levando consigo uma centelha de esperança que insistia em não ir embora. Espero que estejam todos a salvo, pensou novamente, e, sozinho, desceu tristemente a estrada escorregadia que o levaria até os portões da Mansão Real.