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Este é o 23º artigo de 23 posts da série Renegada.

A Grande Dama Sombria interrompeu brevemente seus preparativos para partir e apontou na direção de Godfrey, Walden e Ashbury por um momento.

– Vocês três irão logo atrás – disse ela, depois arrumou o capuz sobre a cabeça. – Levem Lorna consigo, e só apareçam quando eu solicitar.

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Ainda demoraram algum tempo para se organizar. A despeito dos protestos do Sumo Senhor da Guerra Cromush – o Comandante Órquico de confiança que Garrosh havia deixado na Linha de Frente dos Renegados para vigiar as atividades dos mortos-vivos –, Sylvana Correventos decidiu que iria à frente sozinha, à cavalo. Cansada das reclamações de Cromush, a Rainha cedeu às preocupações e pediu que ele seguisse logo atrás, na companhia de Halie e das val’kyren. Godfrey, Walden e Ashbury seriam os últimos, conforme as instruções que já haviam recebido, e deveriam permanecer ocultos até que sua presença fosse necessária.

– Avante! – Sylvana gritou antes de impulsionar seu cavalo descarnado, quando todos se declararam prontos. – Para a Muralha Greymane! Vamos expulsar os cachorros da Aliança e tomar Lordaeron pelos Renegados!

– Pela Horda! – Cromush brandiu o enorme machado no alto.

– Pela Horda! – um coro sonoro foi ouvido, enquanto Sylvana disparou em sua cavalgada rumo à Muralha Greymane, seguida por seus soldados de confiança.

A Rainha chegou ao destino adiantada e parou sob o portão de entrada esculpido na Muralha Greymane, aguardando que seus Renegados se aproximassem. De cima de sua imponente montaria, deu uma rápida olhada para trás e, ao notar que seus reforços estavam perto, virou-se novamente na direção de Guilnéas e juntou as mãos em uma concha sobre a boca.

– CROWLEY! – gritou o mais alto que conseguiu. – CROWLEY! VENHA ATÉ MIM!

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Quando Halie chegou perto o suficiente para enxergar o que ocorria do outro lado da Muralha, percebeu que o chamado de Sylvana fora apenas teatral. Crowley viria até ela mesmo se não houvesse gritado às portas de sua cidade, uma vez que havia uma quantidade considerável de worgens se debatendo na estrada, alarmados e sem saber como reagir diante da aparição espontânea da líder dos Renegados.

Alguns worgens saíam correndo, no intuito de espalhar a notícia, enquanto outros se limitavam a rosnar ameaçadoramente. Sylvana permanecia montada em seu cavalo, sem dirigir qualquer palavra aos seus aliados e ignorando as provocações dos worgens, apenas olhando para a frente à espera de Lorde Darius Crowley enquanto as val’kyren faziam um escudo à sua frente para protegê-la de qualquer ataque.

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Quando Crowley finalmente apareceu, seguido de perto por Ivar Dentessangue, a Rainha abriu seu sorriso mais irônico para cumprimentá-lo.

– Crowley! – disse em tom brando. – Achei importante vir até aqui. Suas forças caíram diante do meu poderoso exército. Você perdeu.

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– Isso não acabou, Sylvana – Crowley respondeu com sua voz canina. – Não ainda.

– Você frivolamente desperdiça as vidas do seu povo enquanto seu rei permanece sentado em seu trono de mentiras, mal erguendo um dedo para ajudar – a Rainha firmou a voz, balançando a cabeça em desaprovação. – Guilnéas realmente vale as vidas que foram perdidas? E as que serão perdidas? Você não tem como vencer.

– Vamos morrer tentando! – Lorde Crowley rosnou.

Sylvana armou-se de sua expressão de falsa piedade e encarou-o por um momento. Halie soube o que se seguiria, e preparou-se para testemunhar aquela que poderia ser a cartada final da guerra entre os Renegados e a Aliança.

– E quanto à sua filha? – Sylvana começou. – Oh, você poderia tê-la salvado… poderia ter oferecido seu próprio sangue por ela, e mesmo assim não o fez. Por quê?

– LORNA? – Crowley transtornou-se. – O que… Onde ela está? O que você fez com ela?

– Nada. Ainda…

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A respiração pesada de Lorde Darius Crowley podia ser ouvida claramente. Olhou por um momento na direção de Ivar Dentessangue, talvez em busca de uma resposta, mas nada parecia ocorrer a nenhum dos dois para lidar com aquela inesperada situação.

– Eu lhe dou uma escolha, Crowley. Uma escolha que eu nunca dei a ninguém – disse a Grande Dama Sombria, agora muito séria. – Ofereço-lhe a vida de Lorna, em troca de sua rendição incondicional. Escolha suas próximas palavras com cuidado. Negue a proposta, e ela me servirá como morta-viva… Para sempre.

Lorde Crowley olhava para os lados, desesperado. Ivar Dentessangue sussurrava algo ao seu ouvido, mas ele parecia não escutar.

– Traga-a, Godfrey – ordenou Sylvana.

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Lorde Godfrey saiu detrás do enorme portão da Muralha, ladeado por Walden e Ashbury, carregando uma Lorna Crowley irritada nos ombros. A Comandante havia acordado, e agora se debatia, chutava e gritava enquanto os Renegados a levavam ao encontro de Sylvana.

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– GODFREY! – Crowley gritou. – Seu verme traidor!

– Olá, meu velho amigo – Lorde Godfrey respondeu calmamente.

Crowley observou Lorna por um instante, e chegou a encontrar com os seus olhos cansados, suplicantes. Abalado, voltou-se para Sylvana e abaixou a cabeça.

– Lorna… Eu… Solte-a – pediu, derrotado. – Irei anunciar a retirada.

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– Você não pode estar falando sério, Crowley! – Dentessangue parecia realmente em choque. Crowley olhou-o, envergonhado, e balançou a cabeça uma vez. – Você… Seu bastardo miserável!

Ivar Dentessangue deixou-o sozinho em meio aos Renegados e correu para Guilnéas novamente, revoltado com a decisão que o amigo havia tomado.

– Solte-a, Godfrey – Sylvana ordenou, ao que Lorde Godfrey obedeceu prontamente.

Lorna Crowley correu para perto do pai aos tropeços, observada por todos, e a Grande Dama Sombria sorriu abertamente.

– Agora saia daqui, Crowley – disse ela. – E nunca retorne. Lordaeron pertence aos Renegados.

Lorde Crowley apoiou a mão nos ombros da filha e deu as costas para Sylvana Correventos e seus mortos-vivos. Caminharam lentamente na direção oposta, de volta para Guilnéas, e antes de perderem-nos de vista os Renegados ainda puderam ouvir um pedido de perdão.

Sylvana aguardou até que estivessem sozinhos para comemorar. As val’kyren batiam as asas, agitadas, subindo e descendo no ar, enquanto Lorde Godfrey, Walden e Ashbury permaneciam serenos, um tanto afastados do grupo.

– SOLDADOS DA HORDA! – a Rainha finalmente gritou. – NÓS VENCEMOS! LORDAERON É NOSS…

O barulho seco de um disparo interrompeu seu discurso, e todos demoraram a entender o que acontecia até que o cavalo em que Sylvana estava montada relinchou alto e saiu correndo em disparada. O corpo da Grande Dama Sombria fez um baque surdo ao bater no chão molhado, despencado de cima da montaria, inerte.

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Ah, não. Halie foi a primeira a perceber o que havia se passado. Virou-se para trás, na direção de Godfrey, Walden e Ashbury, e encontrou-os estáticos, em pé atrás de Sylvana.

Lorde Godfrey abaixou lentamente a arma que tinha na mão e encarou-a de volta.

– O QUE VOCÊ FEZ, GODFREY? – Cromush berrou, inconformado, sem conseguir decidir se os atacava ou permanecia ao lado de Sylvana.

– Algo que deveria ter sido feito há muito tempo, seu animal imundo – Godfrey respondeu. – Agora Guilnéas pertence à mim, e logo também o resto de Lordaeron pertencerá!

O Senhor da Guerra Cromush deu um grito de ódio e correu em direção aos três traidores, empunhando seu machado com toda a força que podia. As val’kyren, transtornadas, voaram para ajudá-lo, cobrindo-os com a sombra de suas asas. Godfrey atirava contra elas, tentando acertar qualquer uma das três, mas os projéteis passavam por seus corpos sem machucá-las.

Cromush seguia brandindo o machado contra Godfrey, mas Ashbury e Walden o seguravam pelas costas, impedindo que se aproximasse. Lorde Godfrey percebeu, depois de um tempo, que não podia vencer as val’kyren daquela forma. Sua expressão foi mudando lentamente, e, preocupado, juntou-se aos aliados e finalmente ordenou:

– Bater em retirada!

Godfrey deu as costas às val’kyren e saiu correndo. Walden e Ashbury seguiram-no logo atrás, com Ágata, Artura e Dália em seu encalço. Cromush não se deu ao trabalho de correr. Exausto, aproximou-se novamente do corpo de Sylvana e agachou-se, desolado.

Halie permanecia em pé, imóvel, sem conseguir se mover. Olhava para baixo, tentando assimilar o que acabara de ocorrer, enquanto escutava os sons da tentativa de fuga dos traidores.

Num segundo ela está gritando, e no outro…

– Está… Morta… – Cromush sentenciou, confirmando o que todos temiam. Então virou-se para trás, na direção das val’kyren, e gritou o mais alto que podia: – Sua Rainha está morta!

As val’kyren pararam imediatamente, ainda olhando na direção oposta. É claro que já sabem, Halie pensou. De fato, estavam as três agindo estranhamente, voando devagar, batendo as asas umas nas outras, seu brilho gélido cada vez mais fraco.

– Tragam-na de volta! – Cromush ainda gritava quando as três se aproximaram. – Tragam-na de volta!

As val’kyren cercaram o corpo sem vida de Sylvana Correventos formando um triângulo ao seu redor e, por um momento, o mundo pareceu ficar mais triste.

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– É nosso dever sagrado – disse Dália.

– Que seja feito – respondeu Artura.

Halie e Cromush afastaram-se quando o brilho azulado iluminou o solo, mais forte do que nunca, refletindo em seus rostos e cegando-os durante um instante. A silhueta de Sylvana era visível em meio à luz, sendo erguida no ar pela forte magia das val’kyren.

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Quando tudo acabou, o corpo de Sylvana Correventos permaneceu caído no solo por mais alguns segundos. Halie e Crosmush, tensos, aguardavam que algo acontecesse, até que a Grande Dama Sombria finalmente abriu os olhos e se levantou lentamente.

Enquanto Sylvana se erguia, os corpos de suas val’kyren desabaram no chão ao seu redor. O brilho que suas auras gélidas emanavam foi diminuindo aos poucos, até se apagar por completo, e a Rainha Banshee precisou de alguns instantes de silêncio para absorver todo o absurdo do que havia acabado de acontecer.

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Da glória ao caos em um segundo, Halie pensou, sentindo-se mais desolada do que jamais se sentira em toda sua vida. Não era pra ser diferente depois da morte? Não quero ter sentimentos, não quero mais pensar…

Toda aquela tristeza atingia-a como uma dor física, um aperto no coração que já não possuía. Lembrou-se de como era a sensação de ter um calafrio e quase pôde senti-lo de novo. Queria chorar, mas já não podia. Olhava para aquela cena desoladora, uma melancolia quase palpável pairando sobre sua cabeça, como uma nuvem negra que o vento não conseguia empurrar para longe.

O desalento só não era mais denso do que foram as palavras proferidas pela Grande Dama Sombria, enquanto olhava para as ruínas do que um instante antes havia sido seu triunfo:

– Eu vi apenas a escuridão diante de mim… – seu sussurro era quase inaudível, um sopro sem vida, os ecos de uma alma violentada, destruída, tão vulnerável quanto a de um mortal qualquer. – E-Enquanto eu flutuava em meio ao nada, uma luz brilhante apareceu… Então apareceu outra, e mais outra…

Sylvana olhou para o chão e sua expressão, já desconcertada, tornou-se ainda mais sombria.

– Minhas queridas val’kyr… – com o canto do olho, Halie viu que a Rainha olhava em sua direção agora. – Agora eu sei, sem sombra de dúvidas… As val’kyr são o nosso futuro. Nós nunca desistiremos de lutar por Lordaeron. Nunca! – Sylvana apertava as mãos com força aos lados co corpo, a boca crispada de ódio. – Isso… não acabou ainda. Godfrey e seus amigos traidores irão pagar pelo que fizeram, assim como as forças remanescentes da Aliança que ainda ocupam Lordaeron. Nossa missão está apenas começando.

 

*Nota: Ei, pessoal! É aqui que eu acabo a história da Halie. Para mim, foi ótimo escrevê-la, e espero que também tenha sido uma boa leitura para vocês. Obrigada pelo carinho de sempre. A Halie vai embora por um tempo, mas eu continuo por aqui. Até a próxima semana! 🙂

*Nota²: A morte da Dama Sombria não é muito bem retratada nem explicada dentro do jogo, mas a complexidade que envolve o submundo no qual Sylvana Correventos entra nesse momento é realmente digna de atenção. A quem interessar saber mais, recomendo a leitura deste conto. Vale a pena!