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Se servisse de alguma coisa, Halie teria prendido a respiração naquele momento. Hesitou durante alguns segundos, e então deu os dois passos que faltavam para alcançar o portal.
– Ai! – murmurou quando foi impelida para trás por uma força oculta que a impediu de cruzar para o outro lado. Se deu conta de que seus olhos estavam fechados e abriu-os violentamente.
A voz de Sylvana voltou a soar em sua cabeça:
– O que foi isso?
– Acho que… não posso entrar – Halie respondeu aos sussurros, examinando o brilho esverdeado do portal. – Há uma barreira aqui…
– Passe o anel ao longo das runas – ordenou a Rainha Banshee. – Talvez você precise… entrar em sintonia com o portal, ou qualquer coisa assim.
Halie obedeceu, olhando para todos os lados para se certificar de que não seria interrompida. Conforme o anel deslizava por cima das runas desenhadas nas bordas, o brilho se intensificava de uma maneira que parecia pulsar, fazendo com que a luz parecesse estar sendo sugada para dentro do portal.
– Parece que deu certo – sussurrou novamente. Não sabia se devia achar aquilo bom ou ruim. Já havia perdido a coragem momentânea que conseguira encontrar antes.
– Agora você está pronta para cruzar o portal – a voz de Sylvana voltou a flutuar em sua mente, agora misturada ao leve zumbido que o portal emitia. – Esteja avisada, Halie: assim que atravessá-lo, você estará em outra dimensão, em Lenhâmbar. Pode ser que existam dez, cem ou mil magos à espera para matar você.
– Ah… – Halie encarou o chão. – Certo.
– Você vai resistir a todos eles.
Halie quis dar risada. Parem de confiar tanto em mim, teve vontade de dizer. Mas não disse, então lembrou-se de que Sylvana podia ouvir seus pensamentos. Quis pensar em outra coisa, mas não conseguiu. Por fim, limitou-se a sorrir e murmurar um “sim, senhora” antes de cruzar novamente o curto espaço que a separava do portal, sem saber o que esperar do outro lado.
Ouviu o zumbido se intensificar levemente e, logo em seguida, silenciar por completo. Por um breve momento, obteve a visão de uma cena que, um segundo depois, constatou ser o cenário que a esperava do outro lado do portal.
Era uma pequena sala, repleta de livros e estantes e entulhada de bancos e mesas grandes demais. De repente, notou que seu corpo também fazia parte do cenário e viu-se parada em frente à porta, observando as figuras silenciosas de dois vigias, que se ocupavam em organizar os móveis e ordenar os livros nas prateleiras.
Os dois aprendizes, um homem e uma mulher, demoraram alguns segundos para perceber a presença indesejada. Gritaram e correram desajeitados em sua direção, lançando feitiços e grunhindo palavras desordenadas. O homem vinha à frente, um tanto atrapalhado com sua túnica comprida, enquanto a mulher, parecendo perdida, decidia se devia sair correndo para chamar ajuda ou lutar ali mesmo.
Para a felicidade de Halie, ela preferiu lutar ali mesmo. Quando chegou perto, seu companheiro jazia no chão.
– Monstro! – gritou a jovem maga. – Monst…
Halie interrompeu o insulto com uma seta de gelo. Saltou por cima dos vigias e correu até a porta, saindo num corredor estreito. Caminhou pela casa, cujos cômodos eram tão cheios de móveis e livros quanto o primeiro, até encontrar a saída. Ao olhar para fora, imediatamente sentiu como se estivesse presa em um sonho.
Escondida dentro da casa, espiava pela porta a mesma Lenhâmbar que conhecera. Agora, porém, tudo parecia cor-de-rosa demais para que seus olhos se acostumassem.
A névoa rósea lhe permitia enxergar o que antes não enxergara: a quantidade de magos que patrulhavam a região naquela dimensão escondida. Fez barulhos e simulou ruídos incontáveis vezes para atrair vigias para dentro da casa, até conseguir liberar sua saída, procurando ocultar-se sempre que podia para não causar alarde.
Conseguiu chegar às ruínas de uma casinha demolida e agachou-se em um canto protegido. Não sabia como se comunicar com a Rainha, então apenas pensou na mensagem que precisava transmitir.
Estou aqui dentro.
A resposta de Sylvana veio imediatamente:
– Ótimo trabalho. Agora expulse os magos para cá! Estamos aguardando ansiosamente.
– Como? – perguntou em voz alta, sem saber se sentia-se mais estranha conversando por pensamentos ou falando sozinha.
– Hum – a Rainha demorou alguns instantes. – Você deve encontrar o responsável pelo nicho dimensional. Aposto como é Ataeric, aquele tolo…
Halie quase podia enxergar a expressão de tédio no rosto de Sylvana.
– Vasculhe o local e encontre-o – continuou a Dama Sombria. – Faça de tudo para impedi-lo de canalizar a magia. Halie… ele deve estar protegido. Descubra um meio de atacá-lo. Agora, escute: Dália está comandando um exército de Renegados. Eles estão parados exatamente na entrada de Lenhâmbar, apenas aguardando que o nicho dimensional seja quebrado para entrar e ajudá-la.
– Oh – Halie tapou a mão com a boca involuntariamente, aliviada pela notícia. – Certo… eu… eu vou procurá-lo.
– Dê o seu melhor, querida. Realmente precisamos de você agora.
A Dama Sombria não se comunicou mais. Halie ergueu a cabeça sobre o nível das paredes destruídas da casinha em ruínas e procurou algo que indicasse a fonte do nicho dimensional. Encontrou-a após alguns minutos, quando prestou atenção em uma corrente cor-de-rosa fluorescente erguendo-se até um buraco negro que surgia em meio ao nada. De longe, conseguiu enxergar a figura do mago que a canalizava.
Analisou o caminho que teria de percorrer até ele. Felizmente, havia apenas uma vigia à sua frente, patrulhando aquele espaço que devia ser considerado tranquilo. De onde estava, calculou suas chances de acertar uma de suas setas na maga. Deliberou consigo mesma acerca dos riscos e, por fim, decidiu confiar em sua habilidade.
A maga foi atingida nas costas e virou-se prontamente na direção do ataque. Halie estava novamente agachada, aguardando que a moça se aproximasse. Quando finalmente o fez, recebeu mais três setas e não teve tempo de gritar ou pedir qualquer ajuda.
Certificando-se novamente de que era seguro sair, Halie ergueu-se e correu até a árvore mais próxima, de onde conseguia ter uma visão melhor do Arquimago Ataeric. A canalização do nicho dimensional ocorria no ponto exato da entrada de Lenhâmbar, por onde Halie havia passado quando visitara o lugar pela primeira vez, em busca do códice.
Para além da cortina dimensional, havia algo mais. Halie conseguia distinguir vultos que se moviam sem parar, caminhando de um lado para outro. Quando apertou os olhos, no entanto, pôde visualizar claramente as formas de Dália, pairando a um metro do chão, batendo suas enormes asas com violência.
Halie sorriu brevemente. Encarou as costas do arquimago, pensando em qual seria sua melhor estratégia de ataque… Até que lembrou-se de que não tinha um plano, e precisou recostar-se ao tronco da árvore durante alguns segundos, apenas para pensar.
Ataeric prosseguia em sua tarefa, imóvel como pedra, os olhos grudados no buraco negro que se formava ao final da corrente mágica. À sua frente, em uma dimensão diferente, Dália subia e descia no ar, ansiosa pelo momento em que poderia atacar.
– Ei, Ataeric – Halie gritou de repente, ainda apoiada no tronco da árvore. – Eu vim destruir sua dimensão.
O arquimago olhou para trás durante um breve segundo, fazendo com que a canalização se enfraquecesse. Halie caminhou em sua direção lentamente.
– Nosso exército está bem aí, na sua frente – disse. O arquimago titubeou mais uma vez, e depois tentou recuperar a concentração.
Halie lançou uma seta de gelo em sua direção. O arquimago pareceu nem sequer sentir o impacto, e assim foi também com as outras três setas lançadas contra ele.
– Lacaios – gritou Ataeric –, impeçam a invasão! O escudo não pode cair!
Um ser luminoso materializou-se a partir do corpo do arquimago e tomou forma enquanto flutuava na direção de Halie. Assustada, ela afastou-se até onde pôde e lançou uma seta contra o lacaio de Ataeric, que se fragmentou em partículas de energia e desapareceu tão subitamente quanto aparecera.
Quando voltou sua atenção para Ataeric novamente, mais dois lacaios já estavam formados ao seu lado. Halie observou-os durante uma fração de segundo, notando a estranha aura faiscante que emanava de seus corpos brilhantes. Eram seres etéreos, formados por pura energia arcana.
– Você nunca terá sucesso, monstro! – berrou Ataeric.
Atacou os dois lacaios ao mesmo tempo e percebeu que o arquimago vacilava em sua concentração durante um breve momento cada vez que eram atingidos e liberavam sua carga de magia arcana ao redor. Mais três já haviam se formado para defender seu mestre, mas Halie não deixou-os se aproximar demais, fazendo o possível para derrotá-los enquanto ainda estivesse perto de Ataeric. Assim como antes, ele se contorcia levemente quando seu escudo era atingido pela energia arcana restante dos lacaios abatidos.
– Nós… nunca… nunca nos renderemos – disse ele, mas Halie notou que estava apoiando o braço que canalizava a corrente com a outra mão, como se estivesse precisando suportar mais peso do que podia. – Os exércitos da Aliança marcharão sobre os seus ossos!
Dália aguardava impacientemente do outro lado da barreira, talvez imaginando o que se passava na outra dimensão ou, quem sabe, recebendo de Sylvana todas as informações sobre o desenvolvimento do ataque pela visão que Halie lhe passava. Ainda não havia entendido ao certo como a Rainha se comunicava daquela forma e o quanto de seus pensamentos podia realmente conhecer.
– Lordaeron pertence à Aliança! – Ataeric gritou, recebendo mais uma carga particularmente pesada de energia arcana. – Você apenas adia o inevitável!
Halie viu quando seus joelhos se dobraram, e o arquimago foi obrigado a prosseguir seu trabalho com as costas arcadas e os ombros baixos, a face contorcida em uma expressão de esforço profundo. Os lacaios continuavam a se materializar, e agora era possível ouvir gritos vindos de trás, misturados aos sons desordenados dos passos apressados dos magos que corriam ao socorro de Ataeric.
Só mais um pouco, pensou, atacando os sete lacaios que flutuavam em sua direção ao mesmo tempo em que acompanhava os magos com o olhar. O arquimago Ataeric foi mais uma vez atingido pelos raios de energia e apertou os olhos com força.
– O poder… é muito grande… eu não consigo… segurar… – murmurou antes de deixar-se cair no chão, os braços esticados ao lado do corpo, temendo violentamente.
Aproximou-se do corpo incapacitado de Ataeric e olhou para cima, encarando o buraco negro que aumentava, sugando toda a barreira para si. A onda de magos chegava ao local, preparando-se para atacar assim que estivessem perto o suficiente.
Halie sorriu antes de murmurar seu aviso para a Dama Sombria:
– Agora.
Um segundo depois, viu a silhueta de Dália aprumar-se. Ataeric a observava, imóvel, e notou seu sorriso. Girou os olhos na direção dos magos que chegavam para ajudá-lo, então encarou o enorme vulto que formava o exército dos Renegados, cada vez mais nítido. Sua expressão subitamente tornou-se a de puro desespero. Chacoalhou as pernas, tentando erguer-se enquanto acompanhava o que restava da barreira dimensional ser sugada para dentro do nicho.
– CORRAM! – gritou para seus magos, utilizando o resto da força que ainda possuía. – VOLTEM! Não deixem que eles transformem vocês!
Os magos pararam durante um segundo, entreolhando-se, sem saber ao certo o que deveriam fazer. Nesse meio tempo, a barreira dimensional desapareceu por completo e uniu as duas dimensões. As catapultas dos Renegados foram ativadas imediatamente, atirando bombas no terreno de Lenhâmbar, e o exército da Rainha Banshee correu na direção dos magos, atropelando-os brutalmente.
– A barreira dimensional foi rompida! – gritou Dália. – VÃO, ATAQUEM AGORA! Pela Rainha Banshee!
Halie aguardou até que a batalha tivesse fim. Os pobres magos não tiveram qualquer chance contra a força dos Renegados. Ao fim, formavam um mar de corpos caídos ao chão, envoltos em suas túnicas cor-de-rosa. Dália flutuou calmamente até o centro da batalha terminada, sob o olhar de todo o exército.
Halie soube o que aconteceria a seguir. Abaixou a cabeça para não ser atingida pelos raios que emanavam uma luz azulada e, mais uma vez, escutou as palavras que um dia lhe causaram tanto terror:
– Ergam-se, magos! – gritou a val’kyr. – Renasçam como Renegados!