Se você é uma pessoa minimamente antenada em qualquer mídia, é bastante provável que você tenha acompanhado um pouco que seja do caso do garoto de 13 anos que matou os pais, a tia e a avó, e depois se suicidou. Eu confesso que fui saber do ocorrido um tanto depois, já que eu não ligo a televisão para nada. Por mais absurdo que tenham sido as especulações se ele tinha matado ou não, o grande debate que gerou entre o universo dos jogadores de video-games e jogos online é que estavam atribuindo ao jogo que o garotinho jogava, no caso Assassin’s Creed, a culpa do suposto “impulso” que fez o garoto cometer os assassinatos. Minha primeira impressão foi: “Mas que merda coisa é essa?!”
O interessante é que, a Internet, sendo o grande palco das mentes criativas desse mundo, acabou disponibilizando milhares de opiniões sobre o caso, e é claro milhares de piadas sobre a relação entre assassinatos e jogar video-game. Isso também me fez lembrar do post da Eikani sobre o retardado rapaz que matou mais de 70 pessoas em Oslo, Noruega, e que para o desespero de nossos pais/amigos/conhecidos, ele jogava World of Warcraft. Se seguirmos pela lógica da nossa maravilhosa mídia de massas, achando que qualquer um que segurar um joystick/console ou apertar W, S, D e A é um potencial criminoso, acho que a polícia já devia ter batido na minha porta faz tempo. Não só isso, teríamos algumas mudanças bem interessantes:
- Jogar Banco Imobiliário te faria rico.
- Matar tartarugas, como você fazia em Super Mario, podia salvar sua vida.
- Se você faz Batalhas de Mascote, poderia ser indiciado por Briga de Galo.
- Brigas de rua seriam um Street Fighter ao vivo!
- Tirar a escada da piscina poderia matar sua esposa não seria tão trágico. Afinal, o fantasma dela viria te assombrar de noite, e você ia acabar não sentindo tanta falta assim. Em The Sims, você nem mesmo era preso por isso.
- Roubar um carro e atropelar pessoas faria de você um grande jogador de GTA.
- Jogar uma casca de banana na rua seria crime, porque poderia matar alguém.
- A comida mais valorizada no mundo seria Frango Assado. Ia recuperar a vida de todo mundo.
- Todo jogo de futebol poderia ter replay das melhores jogadas. Você dava um PAUSE, e pronto!
- Construir cidades ficaria bem mais fácil, teríamos milhares de engenheiros civis treinados em Sim City por horas a fio.
Minha opinião é o seguinte: Querem justificar que um louco matou pessoas porque jogava video-game? Ótimo. Então justifiquem que eu não preciso de habilitação para dirigir porque zerei Mario Kart, que eu posso dar aula de História porque joguei 3 anos de Civilization e Age of Empires, que eu sou perita em Arco e Flecha porque jogo WoW há três anos. Claramente estou brincando, mas acho pouco provável que alguém, em qualquer país, possa considerar coisas boas como vinculadas a jogos. E mesmo que considerem, não farão disso uma regra, como estão fazendo com os jogos.
Outra coisa bastante perturbadora é vincular jogos à comportamentos. Jogos são uma alternativa de entretenimento, e não um treinamento de pessoas para serem psicologicamente doentes. As pessoas que cometem crimes monstruosos já possuem certos desvios mentais, ou estão mal psicologicamente, ou um grande trauma lhes ocorreu e eles não conseguiram lidar com isso. Culpar qualquer jogo por isso é dizer que há milhares de pessoas sendo supostamente treinadas para serem assassinos em série. Como isso não acontece, obviamente os jogos não têm como ter relação nenhuma com isso.
O universo gamer ainda é mal visto socialmente, quem se diz “gamer” carrega o esteriótipo de ser uma pessoa retraída socialmente, ser viciado em ficar em casa sem ver a luz do sol porque precisa jogar, e que não tem chances de ser uma pessoa “normal”. Permitir que abordagens da mídia deturpem ainda mais o real Universo Gamer é pedir para ser ainda mal visto. Eu não quero conversar com um amigo, dizer que sou colunista de um site de jogos, e ouvir “não acredito que você joga esses joguinhos!“. Não quero entrar em casa, e minha mãe discutir a notícia sobre o garotinho do Assassin’s Creed, enquanto me olha com um certo pesar, como se esperasse que eu me tornasse alguém semelhante (e aliás, eu acho pouco difícil que o menino tenha realmente matado a família, mas essa é outra discussão). Não quero ir tomar um café, sentar próxima a uma mesa entre amigos, e ouvir um deles dizer “Fulano joga video-game o dia inteiro, por isso ele é gordo e não tem namorada.” Isso também é preconceito, e estou pouco disposta a deixar que notícias de jornalismo oportunista como essas se espalhem como se fossem verdades irremediáveis.
Se quiserem conferir, há um Tumblr (clique aqui) de protesto com essas falsas acusações que brinca com manchetes de jornais e mídias famosas, fazendo brincadeiras irônicas com jogos e crimes reais. Uma idéia bastante interessante na minha opinião, pois mostra com uma visão divertida que culpar os jogos pelas ações das pessoas que os jogam é completamente absurda.
Conte-me um pouco da sua opinião sobre o assunto! Desculpem-me se eu me exaltei em algumas opiniões, mas é tudo parte do meu ponto de vista.
Muito obrigada, e até mais o/