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Boa leitura!
Dareon escavou suas memórias de garoto para lembrar-se do local exato onde ficava a Prisão Guardapétrea. Demorou-se olhando para todos os cantos do Distrito Militar, procurando por alguma rua conhecida, um beco cuja entrada soubesse onde ia acabar…
… e desistiu, cansado, aceitando o fato de que nada mais permanecia igual. Tudo estava tão sujo e destruído que não encontrava quase nenhum vestígio dos lugares conhecidos, e começou a pensar que seria quase impossível reconhecer o que quer que fosse em meio à enorme ruína em que Guilnéas havia se transformado.
Lorde Godfrey o olhava de soslaio, e Dareon tinha certeza de que estava aguardando que fizesse alguma besteira para repreendê-lo. Como realmente já havia demorado tempo demais pensando no que fazer, virou-se de uma vez, acenou rapidamente para Loren e correu em direção a uma rua qualquer.
Ouviu o combate antes de vê-lo. Assim que virou a primeira esquina, avistou os poucos soldados de Guilnéas que eram subjugados por dezenas de worgens raivosos. Passou por cima de corpos e precisou desviar de poças de sangue no chão, esgueirando-se pelos cantos, tentando passar despercebido em meio ao caos da batalha.
Depois do que lhe pareceu uma eternidade, encontrou o prédio que procurava e, com a ajuda dos soldados de Guilnéas, enfrentou os worgens que bloqueavam sua entrada. Broderick estava logo no início das escadas, armado até os ossos, e o encarou com cara de poucos amigos quando Dareon entrou tropeçando e quase caiu aos seus pés.
– E você seria…? – perguntou o Capitão, uma perfeita expressão de desprezo estampando seu rosto.
– Dareon – ajeitou-se rapidamente. – Sou Dareon. Vim até aqui a mando do Rei… e olha que não foi fácil chegar, hein? O caminho está todo tomado por worgens, que loucura…
– Fale logo, rapaz, não tenho o dia inteiro!
– Bem, ele quer libertar Lorde Crowley… Godfrey é absolutamente contra, veja bem, mas o Rei ignorou sua opinião e me mandou mesmo assim.
– O Greymane quer libertar o Crowley? – Broderick gritou. – Ele ficou maluco?
– Desculpe, Capitão, mas eu realmente não sei o que ele pretende… Talvez obter mais reforços, quem sabe?
Capitão Broderick suspirou e baixou o escudo.
– Eu… eu realmente não consigo entender porque o Rei quer salvar a pele daquele sujeito. Mas, se você está disposto a arriscar a vida por isso, fique à vontade – apontou com o indicador para cima. – Está no telhado da prisão, provavelmente tramando contra Greymane…
– Certo – Dareon assentiu e passou pelo Capitão nas escadas, ignorando o resto da reprimenda. – Até mais.
Broderick observou-o até sumir na escada em caracol, cujos degraus Dareon subiu correndo, segurando o machado com uma das mãos enquanto apertava o cabo da adaga com a outra.
Encontrou o terraço apinhado de worgens. Viu quatro homens reunidos de frente para a cerca que marcava o fim do telhado, todos em posição de luta, defendendo-se dos ataques constantes. Estavam mal armados, no entanto, carregando apenas pedaços de madeira, e a pouca quantidade de roupas que lhes restava estava em farrapos.
Um deles, Dareon logo notou, estava gravemente ferido. Permanecia deitado no chão, inconsciente, enquanto era vigiado de perto pelo mais velho do grupo. Os outros dois – um homem forte sem camisa, com um dos olhos bem protegido por um tapa-olho escuro, e outro que lhe guardava as costas, empunhando uma enorme tora de madeira – os protegiam, olhando um para cada lado, suportando todas as investidas dos worgens para impedir que qualquer criatura se aproximasse dos amigos indefesos logo atrás.
Dareon não fazia ideia de como deveria dirigir-se à eles. Subiu as escadas achando que encontraria uma versão mais nobre de Lorde Darius, e com certeza em uma situação não tão apavorante. A julgar pela quantidade de worgens que os atacavam, Dareon percebeu que logo seriam vencidos – se não por uma criatura, pelo cansaço – e correu para ajudá-los.
– Quem é você? – berrou o homem sem camisa, olhando-o desconfiado.
– Dareon – respondeu, aproveitando sua posição para atacar dois worgens no pescoço. – Sou Dareon. Quem de vocês é Lorde Darius Drowley?
– Da parte de quem?
– Greymane.
Dareon viu quando a expressão fechada do desconhecido suavizou-se. Ainda demorou mais alguns segundos jogando worgens para longe antes de responder.
– E o que Sua Alteza quer comigo?
– É você? – Dareon encarou-o quando ficaram livres por um momento. – Crowley? Lorde Crowley?
– Greymane mandou que viesse aqui me olhar torto, rapaz? – Lorde Darius esbravejou. – Diga logo o que quer ou se mande de uma vez.
– Estou aqui para ajudar! – disse Dareon. – Vocês têm um velho e um ferido para tomar conta e proteger de todas essas aberrações… E estão em dois. Há quanto tempo estão fazendo isso? Daqui a pouco não vão mais aguentar, e então o que será de todos vocês?
– Eu… eu perdi a noção do tempo…
– Greymane precisa de você novamente – Dareon rolou o corpo de um worgen morto para o canto. – Lorde Godfrey não concorda, sabe, mas de qualquer forma… a cidade está um caos. As pessoas não têm mais onde viver, as ruas estão tomadas, todos precisam esconder-se o dia todo para… – suspirou. – Você sabe de tudo isso, não sabe? Essa briga não faz mais sentido. Agora tudo está… diferente.
– Greymane disse tudo isso, foi?
– Não exatamente. Mas eu tenho certeza de que é isso…
– … o que ele pensa – Crowley completou, olhando para baixo. – Eu sei. Ele está certo… Essas feras não estão nem aí para a política dos homens. Guilnéas precisa ficar unida.
Dareon sorriu.
– Então vamos logo – disse –, antes que venham mais worgens e…
– Assim que conseguirmos tratá-lo – Lorde Darius apontou para o ferido no chão e Dareon esticou o pescoço para olhá-lo melhor. – É nosso amigo, Sean Dempsey. Um desses cães o acertou de jeito. Não podemos removê-lo até estancarmos o sangramento.
– Acha que demora quanto tempo? – perguntou Dareon.
– Se você puder continuar me auxiliando a manter os worgens longe, o Tobias pode ajudar a curar o Dempsey. Não conseguimos ajudá-lo antes porque só um de nós não é páreo para tantos worgens, mas agora…
Dareon olhou para o homem a quem Crowley chamara Tobias.
– Sou Tobias Brumanto – apresentou-se o homem. – Ao seu dispor, rapaz.
– Depois vocês se beijam – berrou Crowley, interrompendo Dareon quando esticava a mão para cumprimentar Brumanto. – Agora precisamos lidar com aquilo ali.
Dareon olhou na direção em que Crowley apontara e, juntos, correram em direção ao novo grupo de worgens que vinha ao seu encontro. Darius brandia a tora de madeira que antes estivera com Tobias, acertando as criaturas onde conseguisse, enquanto Dareon se aproveitava de seu machado para espantá-los.
Depois de minutos inacabáveis de combate, quando Dareon começava a achar que desabaria no chão se continuasse em pé, o homem mais velho assoviou alto e os chamou de volta.
– Conseguimos? – perguntou Crowley, agachando-se ao lado do ferido. Tobias assentiu. – Oh, em que boa hora você chegou, Dareon! Obrigado pela ajuda. Acho que graças à você um bom homem sobreviveu.
Dareon sorriu e levou um aperto amigável no ombro.
– Agora, preste atenção – continuou Crowley. – Esta é a primeira vez, desde a guerra civil, em que eu concordo com o Greymane. Mas esta não é hora de me prender a velhas rixas. Realmente não acho que esses bichos deem importância ao fato de você ser um rebelde ou um nobre. Avise ao Greymane que meus homens se juntarão aos dele. Há uma casamata perto daqui, no porão do Josiah. Meus camaradas guardaram artilharia pesada lá – estendeu a mão na direção de Dareon e abriu um meio sorriso. – Por gentileza, diga ao Rei que meu arsenal está à disposição.