- [Roleplay] Renegada – parte 1
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Halie demorou mais tempo do que gostaria para balbuciar uma tentativa de resposta. Quando Rutsak perguntou “o quê?” pela segunda vez, ela torceu as mãos e respondeu-lhe novamente – mas até sua voz mais forte saiu amedrontada e com pouca convicção.
– Eu vou tentar.
– Não – falou o Capitão. Halie ficou confusa.
– Não o quê, Capitão?
– Não vai tentar – explicou. – Você não tem a opção de falhar, menina. Se diz que vai tentar, já está pensando no fracasso. Ã-ã – ele chacoalhou um dedo quando Halie meneou a cabeça em discordância. Sentou-se na beirada de uma cama antes de continuar. – Não diga que não, porque é isso, sim. Você não tem mais permissão para tentar, seja lá o que for.
– Ah… eu… sim, Capitão – disse Halie, desconcertada. – Desculpe. Às suas ordens.
Olhou para fora e percebeu que a chuva havia aumentado de intensidade, mas ainda não era suficiente para apagar o fogo que consumia os corpos dos Renegados abatidos. Saiu rápido de dentro da pequena casa e correu para abrigar-se sob as compridas árvores que cercavam a Guarda de Rutsak.
Encarou a enorme muralha de Guilnéas e encolheu-se junto a uma árvore.
– Alô – disse para o D.C.R., erguendo-o à altura da boca. – Comandante?
– Halie? – respondeu a voz do Comandante, entrecortada pelos ruídos do dispositivo. – Onde você está?
– Rumo à Guilnéas. Tenho alguns soldados da 7ª Legião para matar.
– O quê? – o Comandante gritou após alguns segundos. – Por quê?
– Rutsak. Sua guarda também pereceu, mas parece que o Primeiro-sargento deixou-o vivo para testemunhar a glória da 7ª Legião – explicou Halie. – Ele ordenou que eu invada Guilnéas e mate os soldados da Aliança para vingar os Renegados. Achei… achei melhor informar-lhe isso, senhor.
– Pois fez muito bem. Eu… eu não acredito que a 7ª Legião está aqui. Halie, esta é uma oportunidade única! Você disse algo sobre um Primeiro-sargento? Pietro Zaren, por acaso?
– Sim, senhor. Foi ele.
– Halie – o Comandante parou de falar por alguns segundos, e tudo o que se ouvia eram chiados. – Você precisa mesmo ir até Guilnéas. Eu… eu nem imaginava que eles pudessem vir para cá. A 7ª Legião é um regimento de operações especiais de elite. Eles têm agido por debaixo dos panos em quase toda ofensiva militar de monta da Aliança. Isso não é bom… Como eles passaram por nossos navios de guerra? E a mando de quem?
– Sim, Comandante, mas… sozinha?
– Halie, você será muito mais difícil de ser detectada do que um batalhão completo. Por mais mortos-vivos que enviemos, a guarnição em Guilnéas com certeza terá muito mais homens para combatê-los. Você pode se esgueirar pelos cantos, se esconder, abater silenciosamente algum soldado que apareça em seu caminho…
Halie aguardou um segundo antes de responder.
– Entendi, senhor.
– Certo – a voz do Comandante soou aliviada. – Agora preste atenção: precisamos botar as mãos nas ordens deles. Esse tal Pietro com certeza tem informações importantes. Deve estar em algum lugar, em Guilnéas. Elimine-o, reviste o cadáver e procure por pistas.
– E como é que eu faço isso? – Halie quase gritou, sua voz mais estridente do que pretendia.
– Halie, você sabe o que fazer. Eu preciso desligar. Boa sorte.
O D.C.R. silenciou, deixando a morta-viva com a boca meio aberta, olhando-o fixamente. Depois que conseguiu voltar a si, demorou o máximo de tempo que se atrevia para guardar o dispositivo e tomou coragem para atravessar toda a floresta que cercava a muralha até encontrar a entrada de Guilnéas.
Caminhou silenciosamente sob a chuva e encarou de longe a enorme ponte que levava à cidade. Avistou inúmeros worgens que faziam a patrulha do portão e continuou seu caminho esgueirando-se pelos muros que ladeavam a estrada, torcendo profundamente para que nenhum deles notasse sua presença.
Felizmente, não notaram. Halie entrou em Guilnéas e escondeu-se atrás da primeira coluna em meio às ruínas que encontrou. A cidade toda parecia em ruínas, na realidade, toda cinzenta e melancólica, banhada pelo temporal que se arrastava havia horas.
A praça que ficava logo na entrada estava apinhada de soldados, mas Halie logo percebeu que, apesar da aparência, eles não eram tantos. O lugar era grande e não havia sequer um grupo de soldados, que se arriscavam sozinhos em suas rondas, esforçando-se para cobrir todo o terreno.
Melhor para mim, disse a si mesma, olhando em todas as direções para examinar a praça. Estava analisando qual soldado atacaria primeiro, considerando suas posições e a proximidade com outros soldados quando seu olhar percorreu rapidamente uma escadaria ao longe. Halie estacou por um momento e encarou o lugar novamente.
Em pé, no topo das escadas, guardando a porta de uma grande Catedral, uma figura permanecia imóvel, apenas mexendo a espada de vez em quando e gritando ordens para algum soldado distante. Halie se encolheu um pouco mais, guardando a certeza de que aquele era ninguém mais, ninguém menos, do que o seu alvo principal.
De longe, não parecia tão perigoso assim. Vestia-se como qualquer outro soldado e não havia nada de especial em sua aparência. O que o diferenciava naquele momento era apenas sua posição, evidentemente elevada das demais, de onde provavelmente conseguia obter uma visão ampla de toda a praça.
Halie sabia que seria difícil matá-lo, no entanto, e que Zaren não era tão vulnerável quanto parecia. Além disso, precisava ainda encontrar uma maneira de chegar até ele – de preferência, sem fazer alarde de sua presença.
Uma tentativa de grito interrompeu seu planejamento subitamente.
– Renegad…
Halie viu o soldado da 7ª Legião ser arremessado para longe antes de terminar a palavra. Quando conseguiu desprender os olhos do corpo inerte, encarou as próprias mãos, assustada, e tentou lembrar-se de como fizera aquilo. Agachou-se novamente e se arrastou até o soldado, olhando-o com cautela, com medo de que pudesse se levantar a qualquer momento e atacá-la.
Ele a avistara de longe e tentara avisar aos companheiros sobre a presença indesejada de uma morta-viva na cidade. Halie virara-se em sua direção de forma impulsiva, com as mãos estendidas à frente, e a próxima coisa de que se lembrava era vê-lo estatelar-se no chão de pedra. Tudo numa fração de segundo.
As roupas do soldado desconhecido estavam molhadas e aderiam ao seu corpo por baixo da armadura pesada. Halie quase sorriu. Estendeu uma das mãos e deixou que algumas gotas de chuva caíssem livremente sobre sua palma apodrecida. Depois, puxou-a para si e a olhou fixamente.
O efeito ocorreu em menos tempo do que esperara. Halie levantou-se e chacoalhou a mão para livrar-se das pedras de gelo que haviam se formado por sua vontade. Deliberadamente, saiu detrás de seu esconderijo e correu abertamente pela praça em direção ao primeiro soldado que avistou. Este soldado também correu ao seu encontro assim que a viu, brandindo sua espada e gritando para alertar os colegas.
– Invasão! – ouviu alguém gritar ao longe. Halie estendeu as duas mãos na direção de um dos soldados e fez com que uma seta de gelo o acertasse no peito. – Renegados!
Derrubava-os antes que conseguissem chegar perto para enfrentá-la. Halie perdeu as contas de quantas tentativas de ataque sofreu, todas falhas, e, ao final do combate, uma legião de soldados mortos estendia-se por toda a praça.
Ergueu os olhos lentamente e viu o Primeiro-sargento Pietro Zaren encarando-a do topo da escadaria, tão imóvel quanto antes, como se nada houvesse acontecido.
– Ei! – gritou para ele, caminhando em sua direção, a raiva anuviando qualquer outro pensamento. – Ouvi falar de você, primeiro-sargento. É o covarde que ataca na calada da noite, não é?
– Você deve ser mesmo muito confiante em si mesma para entrar dessa forma na minha cidade e desafiar meus soldados. E ainda por cima sozinha. Acha que é imortal, criatura? Aliás, foi impressionante – ele apontou para a praça com o dedo. – Esse seu… hum, espetáculo.
– Talvez seus soldados também pensariam dessa forma – respondeu Halie –, se tivessem sobrevivido ao meu ataque. E esta não é a sua cidade.
Zaren riu abertamente.
– Pensa que só tenho esses soldados, aberração? Há muito mais. Não importa quem ou quantos de nós você ataque, sempre haverá outros para persegui-la.
– Certo. E estão escondidos em que parte da praça? Porque sinceramente, primeiro-sargento, só consigo visualizar nós dois por aqui.
– E você acha que pode me derrotar? – ele gritou. – A mim? Não seja tola. Não sou primeiro-sargento da 7ª Legião à toa, tampouco sou amador como esses iniciantes que você acabou de derrubar. A conversa está muito boa, menina morta, mas eu não tenho tempo para isso. E quanto à você… acho que é melhor que volte de onde nunca deveria ter saído: da tumba.
Halie percebeu que apertava as mãos com força e tinha os dentes trincados enquanto encarava o sargento. Seu discurso prepotente aumentara ainda mais a raiva que sentia e, no momento em que Zaren pôs um pé no degrau da escada, Halie ergueu os braços e o atacou de longe, como fizera com todos os outros soldados.
O brilho azulado emanou de suas mãos, a seta de gelo zuniu na direção de Zaren…
… e ele riu, esquivando-se habilmente.
– Já disse que não sou idiota – disse, brandindo sua espada na direção do pescoço de Halie. – Passei mais da metade da minha vida lutando.
Halie precisou virar-lhe as costas e correr. Zaren perseguia-a, aproximando-se cada vez mais, a lâmina reluzente da espada pronta para cortar o que quer que cruzasse seu caminho.
Quase escorregou no chão molhado e agarrou-se a um pilar de pedra quebrado. O tempo que levou acabou fazendo com que o sargento a alcançasse, e Halie começou a desviar dos ataques de forma aleatória, mantendo como escudo apenas as ruínas da coluna.
Olhou para a poça de água que formara-se no exato local onde Zaren pisava. Deu dois passos rápidos para trás e congelou seus pés, deixando-o impossibilitado de sair do lugar.
– O que…
Halie deixou-o resmungar sozinho e correu de volta às escadas. Zaren permanecia de costas, debatendo-se para tentar se livrar do gelo em seus pés. Halie soltou mais uma de suas setas geladas na direção do sargento, mas o máximo que conseguiu foi acertá-lo na perna direita. Culpou-se pela mira ruim e, quando se preparava para outro lançamento, Zaren conseguiu erguer a perna boa depois de um grito e virou-se de frente para ela.
– É só isso? – berrou para ela, puxando a perna ferida do gelo quebrado.
– Quer mais? – Halie gritou em resposta, tirando dos olhos os cabelos molhados que atrapalhavam sua visão.
Zaren correu o mais rápido que conseguia com uma das pernas quase invalidada e alcançou-a no meio da escadaria. Halie via a fúria da batalha em seu olhar quando a espada subiu ferozmente, pronta para descer e desferir o golpe fatal…
… e, como se tivesse sido desligado, Zaren deixou-a cair no piso e tombou para a frente, atingido por uma seta na barriga e outra no peito.
Halie pulou para trás quando sentiu o corpo inerte do sargento cair de encontro ao seu. Cutucou-o levemente e, quando teve certeza de que havia cumprido seu dever, abaixou-se para revistá-lo. Por baixo de sua armadura, tateou os bolsos da camisa e só parou quando sua mão tocou em um pergaminho dobrado. Tomou-o para si e escondeu-o rapidamente, depois atravessou a praça novamente, encarando as figuras caídas de todos os soldados da 7ª Legião que abatera.
Percebeu que estava esgotada. No que foi que eu me transformei?