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Este é o 5º artigo de 10 posts da série O Diário da Kinndy.

Boa leitura!


– Você me odeia mesmo?
– Sim.
Abaixei a cabeça de tristeza, não entendia porque devíamos odiar pessoas sem ao menos conhecê-las.
– Mas… eu nunca te fiz mal algum.
– Eu sei pequena.
– Se me odeia porque está aqui conversando comigo?
Ele olhou pra estátua e ficou em silêncio por alguns segundos. Acho que fiz uma pergunta que ele nunca havia pensado antes.

 

– Eu não odeio você garotinha, odeio o que você representa. Odeio sua raça em geral e seus companheiros de facção. Odeio o que ela fez com meu povo e tudo o que ela poderá fazer algum dia.
Novamente emudeci. A Aliança não era de todo ruim, mas também não era cem porcento boa, assim como a Horda tinha feito muitas coisas ruins e boas.
– Eu entendo você e eu não te odeio, assim também como não odeio todos da Horda, acho que odeio o que ela já fez com minha raça e minha facção. Mas isso não nos impede de sermos amigos, não é?!
– Impede, assim que eu me levantar não olharei pra trás e não mais falarei com você. E se algum dia eu te encontrar em algum campo de batalha matarei você.
Senti tristeza e medo, morrer pelas mãos dele não devia ser nada agradável.
– E qual é a sua raça?
Ele olhou pra mim incrédulo, realmente eu ainda tinha muito que aprender.
– Sou um Orc, a raça mais forte e nobre da Horda.
– Forte tudo bem, mas nobre?
Ele me olhou com ódio, agora sim eu morro.
– Somos nobres! Não julgue uma raça inteira por erros cometidos por alguns de nós.
Ele tinha razão, mas continuei calada tentando lembrar de algum gnomo que tenha feito tanto estrago quanto um Orc.
– Sua raça não é perfeita pequena.
Olhei pra ele e concordei.
– Ninguém é perfeito.
A armadura dele reluzia e eu havia quase me esquecido da pergunta principal.
– Qual a sua classe?

Ele estufou o peito e disse com orgulho:
– Sou um guerreiro, não percebeu isso?
– Sim, sim, claro… É impossível não ver essa armadura gigantesca que você veste.
Senti o orgulho dele se inflar e quase explodir, ele realmente sentia muito orgulho do que era.
– Me conta porque você escolheu ser um guerreiro?
O orgulho antes estufado foi logo murchando, parecia que ele não entendeu minha pergunta.
– O que?
Levantei e fiquei de frente pra ele e me expliquei, gesticulando.
– Sim, porque você quis ser um guerreiro? Você gosta de ser um? Você já quase morreu em batalha? Você tem medo de algo? Você anda em bandos com outros guerreiros maus? Vocês matam jovens inocentes? Você…
Senti as mãos imensas dele pousar sobre meus ombros.
– Eu só consigo responder uma coisa de cada vez.
Fiquei calada, envergonhada de tanta ansiedade que eu demonstrava.
– Eu quis ser um guerreiro porque meu pai foi um, ele morreu dignamente em um campo de batalha. Quando recebi a notícia eu estava brincando aos arredores de Orgrimmar. Lembro que estava com meus amigos de infância e minha mãe chegou com o elmo dele nas mãos. Dizendo que algum dia ele ficaria muito orgulhoso se eu o usasse também. A partir dali eu entendi que seria somente eu e minha mãe e eu precisava defende-la de todo mau. Foi por isso que me tornei um guerreiro, pequena.
Se eu gosto de ser um guerreiro? Sim, eu gosto. Gosto de saber que posso proteger os meus, proteger os mais vulneráveis e ser útil a minha facção.
Sim, já quase morri em uma batalha. Eu me lembro que o feitiço de uma jovem, porém muito habilidosa maga quase me congelou até eu me partir ao meio. Senti meu sangue congelar e meus ossos doíam tamanho frio que aquela magia continha. Algum dia me vingarei dela.
Não tenho medo de nada, pequena.Ele se calou e olhou novamente para a estátua a sua frente, ele não podia admitir a um inimigo da Aliança que ele tinha medo de perder sua mãe. Logo após alguns segundos de silêncio ele voltou a falar:
– Não ando com nenhum bando de guerreiros maus. E se somos maus, somos somente com nossos inimigos, pois eles merecem toda maldade que existe dentro de nós.
Nunca matei nenhum jovem inocente, pequena. Se assim fosse, você não estaria viva agora. Não acha?!
Kinndy olhou pra ele e percebeu que apesar dele pertencer a facção inimiga ele tinha muita tristeza e responsabilidades no coração. Ela gostaria muito de poder conhecê-lo melhor, ser amiga dele, mas ela sabia que essa relação era impossível, já que o ódio que ele carregava era imensurável.
– Obrigada Malvino, você me ajudou muito.
Ele a encarou, sem saber no que tinha sido útil.
– Se algum dia eu for uma guerreira, quero ser nobre como você.
Os dois permaneceram calados, observando o sol se pôr. Assim que as primeiras estrelas começaram a aparecer no céu de Dalaran, Malvino levantou-se e saiu de perto da pequena gnomina sem olhar pra trás.
Kinndy levantou-se do banco e o observou partir.
– Adeus, meu amigo secreto.