Olá, meus queridos! Eu sou a Vanessa, estudante de Direito e curitibana, muito prazer. Jogo WoW desde 2010 (que gloriosos passaram a ser meus dias a partir daí) e, para falar a verdade, já tive tantas preferências quantas são possíveis: de PVP a arqueologia. Atualmente, faço de tudo um pouco e um pouco de tudo – mas o que eu realmente me divirto fazendo é o que pouca gente considera importante. 🙁
Pois bem, azerothianos. Estou aqui com uma missão: resgatar o espírito de RPG em seus corações. É isso mesmo. Passearei por esse mundão afora e contarei aqui, especialmente para vocês, as histórias que permeiam os mapas, relatarei os legados de NPCs obscuros e explicarei tudo o que aconteceu por Azertoh. Tudo isso, é claro, nas perspectivas – muito mais animadoras – de personagens, que terão suas próprias histórias e sairão sem rumo por essa terra mágica, cumprindo missões e descobrindo os segredos mais profundos do nosso querido World of Warcraft.
Era fim de tarde quando decidiu aceitar o chamado. Recebera-o já havia uma semana, e desde então passou a vagar pela casa, as memórias aflorando em sua cabeça como se algo realmente importante estivesse acontecendo. O chamado ao heroísmo: Cerro Oeste! É só uma viagem, lembrou inúmeras vezes a si mesma, tentando encontrar a coragem que agora se escondia em algum canto de sua alma.
… Mas agora estou sozinha.
Teve de afastar esse último pensamento com todas as forças que lhe restavam. Passou a noite arrumando suas coisas e no dia seguinte, mal a madrugada tinha ido, partiu rumo ao seu destino. Eu posso voltar a qualquer momento, murmurava enquanto cavalgava lentamente. Cerro Oeste fica aqui ao lado.
Chegou ao sítio dos Jansen dois dias depois, e logo foi recebida pelo Tenente Horatio Laine e seus investigadores.
– Olá, garota. Esperávamos sua chegada só daqui alguns dias… – ele disse, com mais simpatia do que aparentava ter quando estava calado. – Bem, não importa. É bom que tenha chegado cedo.
– … Tenente? – Ellis o interrompeu, acanhada. – Por que me chamou? Quero dizer… Por que eu? Com todo o respeito, o senhor tem investigadores e deve ter muita gente à disposição aqui para…
– Ouvi falar sobre o modo com que derrotou Hogger, aquele filho da mãe. Boa aventura foi aquela, hein, menina! – O Tenente a cutucou de modo amigável. – Bem, em todo caso, achei que você seria muito útil na minha equipe… Sabe como é, um rostinho simpático e jovem assim…
– Certo… – respondeu, desconfiada. – E então, o senhor só vai me largar por aí sendo simpática e jovem até que algo suspeito apareça?
– Não exatamente, menina. Na verdade, algo suspeito já aconteceu, e você é quem vai me ajudar. Achou que ia poder descansar, hein? Aproveitar a paisagem? Pois se enganou! Há! E você pode começar a trabalhar… Já.
O Tenente piscou, todo animado. Como não obteve resposta, prosseguiu no tom mais profissional que conseguia:
– O caso é o seguinte, garota: nós temos um crime hediondo em nossas mãos. Um duplo homicídio e um equino… cídio. Para piorar ainda mais, nós estamosem Cerro Oeste. Seeu jogar uma pedra para trás, vou acertar em pelo menos uma dúzia de mendigos com motivos de sobra para matar esses dois (e o cavalo).
Ellis quase riu. Descansar não era bem sua prioridade, e não conseguiria aproveitar a paisagem nem se tentasse. Que paisagem há para se aproveitar aqui, afinal de contas? O que queria mesmo era ter alguma atividade para que o tempo passasse mais depressa. Talvez uma investigação fosse exatamente do que precisava para ocupar a mente.
– Não tenho a menor ideia de quem fez isso e realmente odeio ter vindo até esse pardieiro para investigar o assassinato de dois invasores (e um cavalo), mas quero ser mico de circo se não encontrar o meliante que cometeu o crime. – completou o Tenente. Sua sinceridade a alarmou.
Precisa de um rostinho simpático e jovem, há. O que ele quer é ir embora daqui o mais depressa possível.
O Tenente a conduziu até o local onde estavam os corpos dos Taturana e do cavalo – após aconselhar inúmeras vezes Ellis a manter a calma, pois a cena poderia ser chocante – estendidos de forma grotesca sob uma carroça. Conversaram com os investigadores e, após dividirem as tarefas, ela finalmente ganhou uma função de verdade: conversar com os mendigos.
Oh. Eu deveria ter adivinhado. Só estou aqui porque eles precisam de alguém menos carrancudo para interrogar os desabrigados e não levantar suspeitas. Isso a fez abrir uma carranca de frustração. Olho vivo e faro fino.
… Halie teria rido.
Decidiu, então, deixar para lá seu inconformismo e se preparou para o trabalho. Não era a tarefa mais agradável do mundo, mas já que estava ali, ia ajudar. Não tinha nada melhor para fazer em casa. Não tenho nada melhor para fazer em lugar algum.
Durante as horas seguintes, interrogou as dezenas de mendigos que haviam se instalado indevidamente no sítio. Logo descobriu que eram extremamente hostis, os pobrezinhos. Ellis precisou de todo o seu autocontrole para manter a voz baixa e calma ao se aproximar, como se estivesse apenas iniciando alguma conversa casual com algum desconhecido de aparência mais acolhedora.
Pelas poucas – e nada simpáticas – respostas que conseguiu obter, Ellis retornou ao Tenente com um relatório nada promissor.
– Gente rica eles disseram, foi? – o Tenente coçou o queixo. – Gnolls e murlocs? Olha, gnolls e murlocs não assassinaram ninguém. Isso aqui é outra coisa. É muito limpinho. Muito… perfeito. Quem quer que tenha feito isso tinha um motivo forte. Tá na cara que isso é um caso de assassinato e a gente vai chegar ao fundo dessa história…
Apesar da incredulidade, o Tenente mandou que Ellis fosse ao acampamento dos gnolls do Clã Pata Molhada e, depois, à Praia Grande, onde ficam os murlocs encrenqueiros. Ellis achou que, na realidade, ele só queria lhe dar algo para fazer. Vamos lá, pensou. Investigar alguma coisa é melhor que investigar nada. Então, De olho no lance: o clã Pata Molhada e De olho no lance: murlocs.
Não encontrou muita coisa com os gnolls, afinal. Apenas uns retalhos de tecido vermelho manchados que, só por via das dúvidas, resolveu guardar.
Ao chegar na praia, no entanto, uma carta chegou-lhe às mãos. Algumas partes de seu conteúdo estavam ilegíveis devido ao desgaste, mas era possível ler alguns trechos aleatórios – que não faziam sentido algum.
“… toda forma… baseada… antagonismo da opressão e do oprimido…
… nada a perder, além das correntes…
… o passado não será esquecido…
não será perdoado…
… ERGUERÁ NOVAMENTE!”
– Nada disso me serve! – exclamou o Tenente ao receber os resultados da investigação. – O que devo fazer com esses retalhos? E uma carta… Genial, novata. Eu tenho uma pilha desses papeis em cima da minha mesa lá na delegacia. Ou seja, voltamos à estaca zero. O que nós sabemos? Alguém que gosta escrever obras de ficção sobre o passado enviou uma carta aos Taturanas.
Ellis permaneceu em silêncio, aguardando mais alguma explosão do Tenente. Não era sua culpa se as pistas não os levavam a lugar algum, mas decidiu não questioná-lo. Após alguns segundos, o Tenente acrescentou de forma branda e decidida:
– Pelo visto, temos em mãos uma bela história de… mistério.