Um sonho de criança meu era ter um canivete. Não qualquer canivete, entenda, tinha que ser um Canivete “Só-isso?”. E tinha que ser feito por mim!
O problema é que aprender a fazer esse treco é complicado demais, e a prática custa mais que os meus e os seus olhos juntos. Solução: arranjar grana!
Mais fácil na teoria, claro, então eu tive que procurar um emprego.
É, eu sei, não combina com meu estilo de vida antes cheio de glamour. Violetta, a Diva, lidando com trabalho braçal que não exige explosões, chantagens, falcatruas ou… sumiços? Nunca, né, bê! Mas fazer o quê, foi o jeito!
Me enfiei pelo centro de Orgrimmar – muito contrariada por sinal, que goblina é que gosta de quase ser pisoteada por todo tipo de montaria enorme? – e cheguei até o Mural de Ordens do Chefe Guerreiro. Não era possível que não houvesse nenhum anunciozinho de serviços por ali. Com um tantico de sorte, um classificado para piloto de testes, quem sabe, ou cobaia de laboratório!
Violetta, a Mercenária, parece ter um certo appeal de mistério e estilo, né? Só que não, neném. Por “Recrutamos mercenários em Sen’jin, de preferência com montaria” eles queriam dizer “Recrutamos motoboys aqui no fundão de Durotar”.
Ser enganada pela propaganda de trolls é uma vergonha, chapa, e eu tenho todo direito de ficar revoltada, sim! E a revolta ainda é maior ao ver a preguiça desses trolls, viu?
Além de eu – euzinha! – ter que fazer uma faxina no litoral da vila deles, parecia que eu era a única que se importava com a presença de humanos por ali. Tudo bem, eles me mandaram exterminar alguns e destruir suprimentos, mas os inimigos tinham planos pra invadir ou destruir Orgrimmar, Sen’jin e Penhasco do Trovão!
A lógica do Larri, meu empregador, era algo como “dá nada, irmão, a gente queima os planos e fica tudo susse”, e quem era eu pra discordar? No fim das contas o dentuço só me deu umas duas moedinhas de prata e me deixou escolher entre um cinto de tecido e umas luvas de malha. Super úteis pra uma caçadora iniciante, naturalmente!
A verdade é a seguinte, chapa: esse tal de Asa da Morte não passou só por Kezan não, ele lascou tudo quanto é mapa. Essa Durotarzona era pra ser um deserto horrível de terra vermelha e cactos, mas alagou tudo e agora virou um deserto horrível de lama vermelha e cactos.
E segundo relatos foi tudo tão repentino que ainda ficou um monte de gente presa pelo aguaceiro, esperando resgate. Pra sorte dos ilhados, Thonk e sua fiel luneta permitiram que a tia linda aqui faturasse uma graninha salvando o dia! Claro que eu preferiria ter usado algum telescópio autenticamente goblínico made-in-Pandaria ou mesmo ter o material pra montar uma RESGatron-2000, mas nem tudo é perfeito.
O pior mesmo foi ter que aguentar desaforo daquela goblinazinha chata de Monte Navalha. Eita mulherzinha insuportável! Fica flertando com tudo que é homem que passa – é “amor” pra lá, “lindão pra cá” – mas quando eu cheguei perto pra pedir informação ela teve a ousadia de me chamar de “baranga” e me acusar de tentar roubar os homens dela.
HOMENS… DELA!
Vê se pode! Violetta não rouba homem de ninguém, minhas flores, porque de usado na minha vida já bastam as peças pra minha Engenharia!
O chato é que demorou pra “lindinha” ali perceber isso. Só depois de me colocar pra catar tesouros (tudo falso, dica!) e ferramentas gnômicas espalhadas lá por perto é que ela sentiu um peso na consciência e revelou que trata tudo quando é mulher mal porque é insegura.
Como se eu já não tivesse imaginado, hunf!
No fim do dia eu já tava cansada, empoeirada, mal-humorada e tudo quanto é “ada” de ruim! Lá ia eu, me arrastando pra Orgrimmar e já pensando em um banho fresquinho com sais e bolhas, quando fiquei um “ada” diferente: apaixonada.
Ah, aqueles olhos brilhantes cheios de ganância! Ah, aquele sorriso cheio de dentes e enganações! Ah, aquele jeitinho obviamente interessado em retorno financeiro! Ah, aqueles membros curtinhos mas que pareciam prontos pra agir ilegalmente nos mercados negros mundo afora!
Por aquele goblin eu até ajeitei o cabelo, retoquei a maquiagem, e me voluntariei para fazer companhia. E como todo bom goblin, ele não estava interessado na companhia e sim em como fazer dinheiro.
Exterminei pra ele as harpias do cânion, que insistiam em atrapalhar caravanas comerciais, e catei tudo quanto era saco de suprimentos espalhados pela região.
No fim, ele tava nem aí pra mim e voltou a fazer planos de enriquecimento rápido e sem esforço. Tem como não suspirar por um goblin assim? Foi paixão à primeira vista… Rezlak, aquele lindo.
Ainda volto e consigo o coração dele, que nem consegui o do meu ex Léo Pardo.